domingo, outubro 23, 2011

Aviso à navegação

"Quem ainda está vivo nunca diga nunca,o que é seguro, não está seguro, as coisas não continuarão a ser como são. Depois de falarem os dominantes falarão os dominados. Quem pois ousa dizer nunca?" escreveu um dia o grande B. Brecht. E eu, que não sou de intrigas estou aqui a fazer umas figas para que isso seja verdade e que eu veja. Não peço grandes mudanças, nem coisas estrambólicas. Apenas que isto vire tudo do avesso.
Nem sequer sou muito original nesta questão. Não sou o primeiro, nem serei o último com esta vontade. Serei, quando muito, um dos mais inoperantes agentes de mudança já vistos, mas isso muda, tudo muda, mesmo o que se pensa que ficou na mesma, mas esta vertigem arteriosclerótica que nos empurra para o conformismo pode ser vencida, eu sei que pode, está provado por milhares de mulheres e homens antes de mim, gente que mudou a vida, fez História e não consta que tenha acabado ainda o Tempo, esse caprichoso modelador de vontades e de inconformismos, para um novo "levantamento de rancho", utópico e criativo, poderosamente romântico, justamente cruel, imparavelmente libertador!
Eu fico assim quando misturo vinho na sopa de letras, já mo disse a minha amada, eu sei que é um defeito mas há bem pior. E gosto. Gosto de pensar que é possível. Terrivelmente possível e belo. Bastava só combinar tudo bem combinadinho. Com a gente de cá, assim sem dar nas vistas com amigos em Espanha, que pudessem passar a palavra aos franceses e assim por diante, gregos, alemães, irlandeses e por aí fora. Depois, era só cada grupo em seu país correr com os parasitas e quem os apoiar. Nós cá era mandar o Passos prá coelha que o pariu mais o seu governo de anémonas, todos num molhe e com ordenados mínimos para saberem o que é ser português no país que eles estão a matar, junto com os Amorins, Belmiros e outros bandidos para um offshore qualquer onde valessem menos do que a bolsa de um pedinte e de onde não pudessem nunca mais fazer mal ao mundo, enquanto ouvíamos nas rádios e nas televisões já extirpadas de comentadores encartados e lambe cus profissionais, enfim livres e plurais, as notícias de que os povos em todo o lado se iam libertando dos seus opressores, lá como cá, a esperança a tomar o lugar da ganância e da corrupção, uma nova Europa, o Manu Chao a cantá-la e a festa da reconstrução, da cidadania e do respeito, do direito de todas e todos a viverem uma vida de felicidade e progresso.
Lá fora chove, e bem. É um começo. Estou certo de que sim. A minha amada diz que é efeito da mistura. Mas eu acho que não. Se todos nós quisermos. E podemos começar já. A falar com os amigos. Com as amigas. Discutir ideias, propôr caminhos, ganhar solidariedades. Depois, no dia 24 de Novembro, vamos ser muitos, mas mesmo muitos no mesmo barco. Os que não forem são os ratos que desta vez nem chegam a embarcar. Sempre houve e haverá quem se corte, por oportunismo ou cobardia, até por simples inércia, alguns não nos acompanharão no combate. A história dirá depois o que deles se souber. Eu, que sou apenas um pobre peixinho, por mim, quero poder olhar directo nos olhos das minhas filhas.


Redfish