tag:blogger.com,1999:blog-14754692.post114057077566914726..comments2023-09-26T14:53:49.704+01:00Comments on Leiria em Cuecas: Ele há é moinhos a mais!!Leiria em Cuecashttp://www.blogger.com/profile/03508732537462383351noreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-14754692.post-1140710211536569382006-02-23T15:56:00.000+00:002006-02-23T15:56:00.000+00:00Dama Pé de CabraPara mostrar que somos tolerantes ...Dama Pé de Cabra<BR/>Para mostrar que somos tolerantes com quem tem opinião diversa da nossa, e a minha opinião não é tão diversa assim, aqui vai um texto de Miguel Sousa Tavares que vem mais do que a propósito:<BR/><BR/> O CERCO<BR/><BR/>JÁ FALTOU mais para que um dia destes tenha de passar à <BR/> clandestinidade ou, no mínimo, tenha de me enfiar em casa a viver os <BR/> meus vícios secretos. Tenho um catálogo deles e todos me parecem <BR/>ameaçados: sou heterossexual «full time»; fumo, incluindo charutos; <BR/> bebo; como coisas como pezinhos de coentrada, joaquinzinhos fritos e <BR/> tordos em vinha d'alhos; vibro com o futebol; jogo cartas, quando <BR/> arranjo três parceiros para o «bridge» ou quando, de dois em dois <BR/> anos, passo à porta de um casino e me apetece jogar «black-jack»; não <BR/> troco por quase nada uma caçada às perdizes entre amigos; acho a <BR/> tourada um espectáculo deslumbrante, embora não perceba nada do <BR/> assunto; gosto de ir à pesca «ao corrido» e daquela luta de morte com <BR/> o peixe, em que ele não quer vir para bordo e eu não quero que ele se <BR/> solte do anzol; acredito que as pessoas valem pelo seu mérito próprio <BR/> e que quem tem valor acaba fatalmente por se impor, e por isso sou <BR/> contra as quotas; deixei de acreditar que o Estado deva gastar os <BR/> recursos dos contribuintes a tentar «reintegrar» as «minorias» <BR/> instaladas na assistência pública, como os ciganos, os drogados, os <BR/> artistas de várias especialidades ou os desempregados profissionais; <BR/> sou agnóstico (ou ateu, conforme preferirem) e cada vez mais <BR/> militantemente, à medida que vou constatando a actualidade crescente <BR/> da velha sentença de Marx de que «a religião é o ópio dos povos», <BR/> licenciado em direito ,tornei-me descrente da lei e da justiça, das <BR/> suas minudências e espertezas e da sua falta de objectividade social, <BR/> e hoje acredito apenas em três fontes legítimas de lei: a natureza, a <BR/> liberdade e o bom senso.<BR/> <BR/>Trogloditas como eu vivem cada vez mais a coberto da sua trincheira, <BR/> numa batalha de retaguarda contra um exército heterogéneo de <BR/> moralistas diversos: os profetas do politicamente correcto, os <BR/>fanáticos religiosos de todos os credos e confissões, os fascistas da <BR/> saúde, os vigilantes dos bons costumes ou os arautos das ditaduras <BR/> «alternativas» ou «fracturantes». Se eu digo que nada tenho contra os <BR/> casamentos homossexuais, mas que, quanto à adopção, sou contra porque <BR/> ninguém tem o direito de presumir a vontade «alternativa» de uma <BR/> criança, chamam-me homofóbico (e o Parlamento Europeu acaba de votar <BR/> uma resolução contra esse flagelo, que, como está à vista, varre a <BR/> Europa inteira); se a uma senhora que anteontem se indignava no <BR/> «Público» porque detectou um sorriso condescendente do dr. Souto Moura <BR/> perante a intervenção de uma deputada, na inquirição sobre escutas na <BR/>Assembleia da República, eu disser que também escutei a intervenção da <BR/> deputada com um sorriso condescendente, não por ela ser mulher mas por <BR/> ser notoriamente incompetente para a função, ela responder-me-ia de <BR/>certeza que eu sou «machista» e jamais aceitaria que lhe invertesse a <BR/> tese: que o problema não é aquela deputada ser mulher, o problema é <BR/> aquela mulher ser deputada; se eu tentar explicar por que razão a caça <BR/> civilizada é um acto natural, chamam-me assassino dos pobres <BR/> animaizinhos, sem sequer quererem perceber que os animaizinhos só <BR/> existem porque há quem os crie, quem os cace e quem os coma; se eu <BR/> chego a Lisboa, como me aconteceu há dias, e, a vinte quilómetros de <BR/> distância num céu límpido, vejo uma impressionante nuvem de poluição <BR/> sobre a cidade, vão-me dizer que o que incomoda verdadeiramente é o <BR/> fumo do meu cigarro, e até já em Espanha e Itália, os meus países mais <BR/> queridos, tenho de fumar envergonhadamente à porta dos bares e <BR/> restaurantes, como um cão tinhoso; enfim, se eu escrever velho em vez <BR/> de «idoso», drogado em vez de «tóxicodependente», cego em vez de <BR/> «invisual», preso em vez de «recluso» ou impotente em vez de «portador <BR/> de disfunção eréctil», vou ser adoptado nas escolas do país como <BR/> exemplo do vocabulário que não se deve usar. Vou confessar tudo, vou <BR/> abrir o peito às balas: estou a ficar farto desta gente, deste cerco <BR/> de vigilantes da opinião e da moral, deste exército de eunucos <BR/> intelectuais.<BR/><BR/>Agora vêm-nos com esta história dos «cartoons» sobre Maomé saídos num <BR/>« jornal dinamarquês. Ao princípio a coisa não teve qualquer <BR/>« importância: um «fait-divers» na vida da liberdade de imprensa num <BR/>«país democrático. Mas assim que o incidente foi crescendo e que os <BR/>« grandes exportadores de petróleo, com a Arábia Saudita à cabeça, <BR/> começaram a exigir desculpas de Estado e a ameaçar com represálias ao <BR/> comércio e às relações económicas e diplomáticas, as opiniões públicas <BR/> assustaram-se, os governantes europeus meteram a viola da liberdade de <BR/> imprensa ao saco e a srª comissária europeia para os Direitos Humanos <BR/> (!) anunciou um inquérito para apurar eventuais sintomas de «racismo» <BR/> ou de «intolerância religiosa» nos «cartoons» profanos. Eis aonde se <BR/> chega na estrada do politicamente correcto: a intolerância religiosa <BR/> não é de quem quer proibir os «cartoons», mas de quem os publica!<BR/> <BR/> A Dinamarca não tem petróleo, mas é um dos países mais civilizados do <BR/> mundo: tem um verdadeiro Estado Social, uma sociedade aberta que <BR/> pratica a igualdade de direitos a todos os níveis, respeita todas as <BR/> crenças, protege todas as minorias, defende o cidadão contra os abusos <BR/> do Estado e a liberdade contra os poderosos, socorre os doentes e os <BR/> velhos, ajuda os desfavorecidos, acolhe os exilados, repudia as <BR/> mordomias do poder, cobra impostos a todos os ricos, sem excepção, e <BR/> distribui pelos pobres. A Arábia Saudita tem petróleo e pouco mais: é <BR/> um país onde as mulheres estão excluídas dos direitos, onde a lei e o <BR/> Estado se confundem com a religião, onde uma oligarquia corrupta e <BR/> ostentatória divide entre si o grosso das receitas do petróleo, onde <BR/> uma polícia de costumes varre as ruas em busca de sinais de <BR/> «imoralidade» privada, onde os condenados são enforcados em praça <BR/> pública, os ladrões decepados e as «adúlteras» apedrejadas em nome de <BR/> um código moral escrito há quase seiscentos anos. E a Dinamarca tem de <BR/> pedir desculpas à Arábia Saudita por ser como é e por acreditar nos <BR/>>> <BR/> Eu não teria escrito nem publicado «cartoons» a troçar com Maomé ou <BR/> com a Nossa Senhora de Fátima. Porque respeito as crenças e a <BR/>sensibilidade religiosa dos outros, por mais absurdas que elas me <BR/> possam parecer. Mas no meu código de valores - que é o da liberdade - <BR/> não proíbo que outros o façam, porque a falta de gosto ou de <BR/> sensibilidade também têm a liberdade de existir. E depois as pessoas <BR/>escolhem o que adoptar. É essa a grande diferença: seguramente que vai <BR/> haver quem pegue neste meu texto e o deite ao lixo, indignado. É o seu <BR/> direito. Mas censurá-lo previamente, como alguns seguramente <BR/> gostariam, isso não.<BR/> <BR/> É por isso que eu, que todavia sou um apaixonado pelo mundo árabe e <BR/> islâmico, quanto toca ao essencial, sou europeu - graças a Deus. Pelo <BR/> menos, enquanto nos deixarem ser e tivermos orgulho e vontade em <BR/>continuar a ser a sociedade da liberdade e da tolerância<BR/> <BR/>por Miguel Sousa TavaresAnonymousnoreply@blogger.com