quinta-feira, dezembro 27, 2012

O cavalo de Boris Vian


   Olá.
   Deixem-me limpar o pó que se acumulou por aqui desde a última vez que aqui vim com alguma disposição de debitar o que na minha alma se vai tornando pesado. É curioso, não sei se é comum a outros, o que acontece comigo neste particular da escrevinhação. É que os motivos que muitas vezes me levam a escrever  são os mesmos que me fazem repudiar tal ideia. Isso acontece, aconteceu e acontecerá certamente de novo. A realidade ultrapassa frequentemente em violência, non-sense e cretinice as mais imaginativas das ficções e enredos. Quando tudo se processa num clima de apatia e conformismo de uma sociedade de cadáveres ambulantes - Walking Deads? isso é banal, os nossos mortos vivos são muito mais aterradores - vergados ao peso das suas necessidades e do medo de ser impedidos de as satisfazer, multidões de  novo escravos assumem as culpas dos seus algozes na vã tentativa de não os desagradar, numa lógica de sobrevivência canibalesca em que o próximo deixa de ser um amigo para se tornar uma ameaça, tenho tanto nojo do que nos tornámos que paro, pois tudo o que poderia produzir nada mais seria do que... seria apenas um vómito.
  É lógico que eu não escrevi porque não me apeteceu, mas a tentativa de explicação acima elaborada tem o seu valor, porque, na verdade, apanhei um valente ressaca virtual e só de olhar o PC me agoniava.
  Este cansaço, fastio melhor dizendo, é muito bem explicado num dos mais maravilhosos livros que li, "A espuma dos dias", de Boris Vian. O título, muito poético, não faz justiça ao francês original, em que a espuma a que se referia era a que se forma na boca dos cavalos, quando muito cansados. Daí a razão do meu título. Manias.
  Foi uma boa quarentena.
  Voltei, em derrapagem conflituante com a prossecução dos meus interesses e os do colectivo, sem querer saber que o Ano Novo que é mais velho que eu sei lá, vem com a sua carga de miséria e injustiça sob o fogo de artifício do costume, nas festas onde os palermas habituais, carregados de vinho e outras drogas legais, se enganam reciprocamente com votos de prosperidade e alegremente engalanam o cadafalso onde porão os pescocinhos com gardénias e bandeiras coloridas made in China. Enjoy Porra Cola, man, enjoy e não penses muito, Porra Cola é que é uma porra do caraças, é a porra dos campeões que patrocina  toda a merda que aqui se vai fazendo mais a que aí vem, porra para isto. Fim do Ano, depois dum fim do mundo que foi uma treta, já nem nos Maias se pode ter confiança, já o Eça o sabia e disse, o que ele não podia saber era da Porra Cola, a rainha de todas e de porra nenhuma,  da porra da dignidade, que se foi, da porra da decência, que se vendeu, da porra da solidariedade que se escondeu, da porra da vergonha que não se sabe onde está, da porra da liberdade que se matou.
  E olhamos os rostos que se perfilam em discursos teletravestidos de oficialidade dúbia e autenticidade obscura, para sabermos que tanta legitimidade tem o impostor disfarçado de poste avançado da ONU para países de imbecis, como estes governantes da porra que alicerçam a incoerência das suas atoardas em mentiras que só não os metem nas mais sórdidas cadeias porque quem está por trás destes trastes é a Porra Cola, a poderosa e omnipresente Porra Cola camuflada em sombras, buracos, disfarces, formas e feitios diversos, exércitos da salvação, igrejas, casas de putas, navios cisterna e outras porras que eu sei lá, tudo serve os seus intentos, tudo serve para que tudo isto se mantenha.
  2013? Eh,eh,eh,eh!! Grande porra!

segunda-feira, novembro 05, 2012

Agora que os animais falam...


      Fernando Ulrich é um animal. Definindo melhor: é uma besta! Sem querer ofender qualquer dos numerosos bichinhos que se governam à custa da natureza, desde a víbora ao lacrau, passando pelas carraças e indo às hienas, que passam por antipáticos aos olhos da humanidade em geral, mas que têm a grande virtude de ( ainda ) não falarem. Não há, de facto, relato conhecido sobre achincalhamento das vítimas de picadela de lacrau pelo dito após, antes ou durante o acto. O que é dito do lacrau é válido para os outros bichinhos, podendo haver algumas dúvidas em relação às hienas, dado o seu péssimo hábito de rirem por tudo ou por nada. Contudo, nunca se ouviu uma hiena a dizer "Ai aguenta, aguenta!" enquanto devora uma carcaça de algum incauto que se pôs a jeito.
     Não quero, também, deixar a ideia errada de que com desabafos deste tipo vamos longe. Esta gente(?) é perigosamente desumana. Estão-se borrifando para o que podemos dizer, estão-se marimbando para a ética, as leis, a moral, nada disso lhes interessa o mínimo, sempre viveram acima disso. O que lhes interessa é o dinheiro e o poder que lhes advém da sua posse, por isso usam de todos os meios para o obterem. É aí, onde lhes poderá doer mais que devemos atacar. Secando-lhes a fonte. Podemos começar de uma forma simples, com este: interrompendo qualquer negócio que tenhamos em que intervenha o BPI. Retirando         ( quem os tiver) os depósitos do BPI e transferindo-os para outro banco qualquer. Não é que sejam melhores, mas tem que se começar por algum lado.   


quarta-feira, setembro 26, 2012

Uma fábula...ou talvez não!


   Um rato asqueroso, percorre no seu passo nervoso o monte de lixo urbano que a noite negra vai encobrindo. Os seus olhinhos piscos varrem as trevas procurando perigos. Pressente-os mas não os vê. Está só, desesperadamente só, não lhe resta nenhum dos outros ratos do bando - supostamente tão seus amigos - que sob sua alçada se foram alegremente juntando enquanto roíam todos os bons bocados  que lhes fora fornecendo. E onde estão as baratas tontas que aos milhares o seguiam escutando e repetindo, deliciadas, os gritinhos que soltava enquanto rebolava satisfeito em orgias de poder e ganância? Nem sombra. À sua volta apenas lixo, formando silhuetas que a noite densa transforma numa potencial ameaça. Nem o seu corpo especial de ratazanas, que julgara fiéis o acompanham. Tudo se desmorona à sua volta e é demasiado cobarde para enfrentar a consequência das suas acções. É um rato asqueroso. Serviu-se e serviu os grandes inimigos do seu povo, os  grandes e poderosos gatos e tem medo, muito medo. Sabe que aqueles a quem serviu nada querem com ele agora que não lhes é mais útil, pior, sabe que é um escolho que urge varrer para que nada disto se saiba. Sabe que no mundo dos ratos nada se perdoa. Um rato que cai é devorado pelos outros ratos. 
     Correr é o que lhe resta, para longe de tudo e todos. Disse um dia que todos os que o criticavam eram "piegas", agora vê-se como um cobarde fugindo para nunca mais voltar. Coisas que acontecem - dirá quem me lê - aos que abusam da sorte. Mas para o aflito rato asqueroso a vida não está para morais. Corre loucamente à procura de segurança e esquecimento. O que ontem era  um caminho aberto para o céu, hoje é apenas um negro abismo sem retorno. Onde pára o tal Triunvirato a mando dos Gatos que vinha para nos (a eles)ajudar a sobreviver? Tinham imposto tudo o que lhes aprouve e mais um par de botas, a tudo tinha acedido prontamente, até tinha acrescentado uns pozinhos de sua lavra para mostrar a sua fidelidade. Porque então o abandonam agora, que tanto precisa de ajuda? Os ratos é que abandonam os barcos que afundam, nada se conhece nesses casos sobre gatos.
    Ouve-se ao longe um tropel que se aproxima, vozes, gritos, a noite atrás de si enche-se de clarões, não, são faróis, luzes que perscrutam a noite à sua procura - de certeza - o seu pequeno coraçãozinho bate a torto e a direito sem querer saber de ritmo nem compasso, sente o pânico a invadi-lo como uma grande onda que o afoga, já não pensa, já não vê, corre às cegas sem noção do destino nem do trilho e de repente o chão foge-lhe debaixo dos pés e cai, cai, cada vez mais depressa, mais depressa, o cérebro desliga, já não sente nada quando se esmaga feito pasta sangrenta contra as pedras que tapam a entrada do esgoto por onde pretendia fugir. 
    A traição paga-se caro, poderá ser a conclusão desta espécie de fábula, mas há gente que nunca aprende. Assim como há quem não saiba que quem cala consente, e que quem consente que ratos asquerosos continuem no poder a roubar tudo e todos não é vítima, é cúmplice.
    Mas como diria Warezoog, filósofo que não conheço mas que respeito muitíssimo, "nada impede que alcancemos a felicidade a não ser fazermos muito pouco por isso, pois é nessa procura constante que nos realizamos". Eu próprio não diria melhor. 

O vosso

Redfish

quinta-feira, setembro 13, 2012

Vamos à luta! Vamos todos dizer não


Não

Não é tempo para lamúrias e lutos e queixas e fugas; é tempo para revoluções. E não podemos levar de novo cinquenta anos a fazer uma revolução. Não pode ser, não é uma opção; porque dentro de cinquenta anos já não existirá nada por que valha a pena lutar. Temos que começar agora, e já vamos atrasados. Afinal, uma revolução até é simples de se fazer; basta começar por dizer “não”. Dizer “não”, e depois gritar “não”; ir repetindo e gritando, sempre “não”, e acreditar que se muitos dissermos “não”, será mesmo “não”. É quanto basta para começar uma revolução. E há que começar já, porque estamos fartos.
Estamos fartos de quem nos rouba a esperança, estamos fartos de ter medo e de fugir e de recear o futuro, estamos fartos de estar quietos, estamos fartos de egoísmos e de gente que vai andando com as vidinhas às costas sem olhar para o mundo que ao lado se desmorona, estamos fartos de nos acomodarmos, estamos fartos de mercados e raitings e troikas e juros e merkels e privatizações e neoliberais e aumentos de impostos, estamos fartos de ser tratados como imbecis, estamos fartos de gatunagens e humilhações, estamos fartos de quem diz que direita e esquerda é a mesma coisa, estamos fartos de fado e tourada e futebol e de todas as outras distracções de regime, estamos fartos de jotas, estamos fartos de sofrer porque não sabemos o que vai ser dos nossos filhos, estamos fartos que nos digam que não vale a pena lutar e protestar e recusar, estamos fartos de quem nos quer ver transformados num povo de burros e atrasadinhos e resignados e subservientes, estamos fartos de pobreza e miséria e de quem diz que esse é o nosso destino inevitável, estamos fartos de passados gloriosos e história e saudosismo e de dão sebastiões, estamos fartos de quem nos quer fazer acreditar que ter um emprego é um privilégio e um luxo, estamos fartos de já não conseguirmos arranjar motivos para rir, estamos fartos que dêem cabo dos serviços públicos de educação e saúde e televisão e dos outros todos, estamos fartos de não ter dinheiro para a gasolina, estamos fartos da ausência de ética e de solidariedade das elites, estamos fartos de comentadores e economistas e de todos os outros que nos negam o direito de acreditar em utopias, estamos fartos de não nos sentirmos livres, estamos fartos de quem tem medo da palavra revolução, estamos fartos de ser fodidos dia após dia após dia. 
Estamos fartos. Ou não, será que estaremos? Quem se calar talvez ainda não esteja, talvez aguente mais um bocado; que aguente, então. Mas quem estiver farto que diga “não”, que grite “não”, que escreva “não”. Que acredite que cada “não” dito, gritado ou escrito faz alguma diferença e que é à junção solidária de tantos “nãos” que se chama revolução. 
Agora, as ruas irão encher-se de gente, alguma silenciosa e outra que dirá “não”. Por lá andarão, certamente, muitos dos 4035539 cidadãos portugueses que nas últimas legislativas não se deram ao trabalho de votar, por certamente estarem ocupados com coisa bem mais importante; por lá andarão muitos dos 793508 cidadãos portugueses que, como eu, votaram num partido de esquerda; por lá andarão muitos dos 1568168 cidadãos portugueses que votaram no PS, que não sendo bem de direita, de esquerda certamente não será; por lá andarão muitos dos 413189 cidadãos portugueses que votaram num daqueles partidos de que nem sabemos bem o significado da sigla mas que são tão importantes como todos os outros; por lá andarão alguns dos 2813729 cidadãos portugueses que votaram nos partidos do governo e entretanto se arrependeram. Por lá andaremos muitos de nós; e a revolução começará assim: dizendo “não”. 

Paulo Kellerman

quinta-feira, agosto 09, 2012

Ambrósio, tire-me a venda dos olhos!! Pimba



  O calor dilata os corpos e abrasa-me o juízo. Não que perca a noção das coisas, isso não, mas se alguma musa alguma vez perde tempo a inspirar-me, no Verão vai a banhos, como toda a gente.
 Quero com isto dizer que estou completamente às aranhas e vou carregando nas teclas sem ter um objectivo definido. Pareço o governo. Com algumas vantagens. Esta escrita não tira o pão a ninguém e eu tenho consciência da sua exacta valia. Estou confiante de que pelo menos alguns me perdoem esta desfaçatez, mas nesta altura do campeonato acreditem que isso é o que menos importa.
 Portugal, neste Agosto de 2012 está muito mais à deriva que a minha escrita. Esta misteriosa e extraordinária falta de sentido do ridículo que os nossos bem detestados governantes vêm patenteando, emparceirada com uma completa ausência de preocupação social e uma tendência preocupante para o autoritarismo parolo do tipo "made in Santa Comba", tendem a transformar este nosso "cantinho" numa fossa onde vêm desaguar todas as excreções mais nefastas das sociedades de mercado livremente selvagem: o lambebotismo, o nepotismo, o compadrio, a corrupção, os "bufos", enfim, uma sociedade baseada na injustiça e onde "os tribunais fazem parte do bando dos abutres" ( como dizia Brecht na maravilhosa e didáctica "A excepção e a regra").
 Um suão quente e triste varreu as praias deste país onde a meia dúzia de tugas a quem não foi roubado os subsídios de férias tenta convencer-se que o "estásse bem" é real e que isto vai melhorar por obra da Santa Engrácia padroeira dos palermas que sempre esperam acontecer e da Santa troika que no dizer dos mais entendidos, entre duas imperiais e as notícias do Record - ah se o grande Eusébio jogasse ainda, eram só medalhas - veio cá pôr ordem nesta merda.
 Até as sardinhas deram de frosques, cansadas de esperar por uma frota de barcos, que numa manhã de nevoeiro, vindas do ignoto buraco para onde, tempos atrás, Cavaco Silva  (que a ignorância e o mau gosto tornaram presidente) as mandou,  as venham pescar!!
 À noite há menos estrelas brilhando no céu, tempo de crise, sinal de poupança, neste jardim combustível, que mesmo tendo pouco para arder, todos os anos consegue queimar mais que no anterior, dizem as notícias e eu acredito, pois não há notícia de as notícias não serem verdadeiras e se fosse bem pago o melhor emprego de verão era o de bombeiro, trabalho não falta e tem entrada à borla nos bailes onde as meninas casadoiras e os seus pretendentes varões, se bamboleiam ao som das lamechices do Michael Carreira, ou do Tony, também Carreira de carreira já feita, seu pai, ainda mais choramingoso e arrebatado, assim numa onda romantico/licor de ginja, à venda em qualquer Continente perto de si.
 É este o nosso triste fado, tão triste que até já é património mundial, e cada vez há mais fadistas, dá-se um pontapé numa pedra e salta um rouxinol a trinar desgraças, não há família que não tenha dois ou três rebentos com tendências ou castiças ou marialvas, conforme o tamanho dos bigodes e onde estão implantados, meu senhor, António Calvário volta que estás perdoado, dizia eu mal de ti e da Madalena Iglésias e mal sabia para o que estava guardado, é isto mesmo, este país está fadado, eu estou fadado, estamos todos fadados, que me perdoem o Marceneiro, a Amália, o Camané, a Mísia e todos os que me encantam, mas estou farto de tanto me andarem a fadar o juízo com a história da desgraçadinha e do rei de Portugal que mesmo embuçado tinha e tem cara de parvo e um cavalo alazão que morreu vá-se lá saber com quê, olha, fadeu-se e pronto, foi o destino, que coisa horrível, tão injusto este destino, bem jogo no euromilhões e vou a pé a Fátima, a ver bem vou a pé para todo o lado que a gasolina está cara, mas nada sucede, destino ingrato, podia ir no cavalo, mas mataram-no com o fado...azar.
 Isto está longo e para quem não sabia o que dizer está demasiado longo. Não esquecer que eu sou apenas um humilde peixinho vermelho, lutando para não ser comido por estes tubarões meia tigela  que nos azucrinam a vida. Por isso, vou dar às barbatanas. Fiquem bem. Até breve.

Redfish

sábado, julho 14, 2012

À Mafalda

Paro a olhar o tempo que passa veloz e vejo-me ainda o jovem que fui e teimo em ainda ser contigo nos braços, um monte de pele e ossos com uma cabecita num lado e 2 pés no outro, e eu embasbacado sentindo todo o peso do mundo nos teus 3 quilitos. Nem eu sabia no que nos tinha metido a mim e a ti, sem sequer te ter consultado. A minha querida cúmplice dormia placidamente(?) com uma pedrada anestésica pós cesariana e eu era o mais feliz e apalermado papá de Caldas da Rainha.
25 anos se passaram entretanto, e o monte de ossos é hoje uma linda mulherzinha que ajuda a embelezar os dias das nossas vidas. Muita coisa se passou desde então. Não estou nada orgulhoso deste país que te ofereci para viver, deste mundo louco em que te lancei. É o reverso de uma medalha com uma cara linda e uma coroa perversa. A esperança que se deposita na juventude é só balela quando de todas as formas se lhe barram os caminhos. Nós, que sonhámos um mundo melhor, sofremos ainda mais pela nossa gritante incapacidade de o construir, divididos por querelas e egoísmos fúteis, herança de outras guerras com as quais parece nada termos aprendido.
No meio disto tudo, tu e a tua irmã são dois diamantes que guardo cioso no meu coração. Gostava de vos ver sempre pequeninas e esconder-vos de todos o perigos. É possível ser-se mais egoísta que isto? Não sei. Sei que não é por mal. Somos assim, nem quando gostamos muito o sabemos fazer bem feito.
Nada é, contudo e ao contrário do que sempre nos querem fazer crer, irreversível. O tempo, talvez.  Por isso, há que o viver com gosto e prazer. Fá-lo. Sê feliz.
 Um beijo.

   

terça-feira, junho 19, 2012

Uma constatação, dois agradecimentos e vários desabafos

As coisas são como são, comenta quem sabe, tudo tem uma explicação racional, acrescenta ainda, mas eu que não sou de intrigas e só tenho a certeza de que tenho muita dúvida por esclarecer, vejo-me grego para atinar com o meu novo modo de ganhar a vida. Honra seja feita a todas e todos que ao longo destes 54 anos me mitigaram a sede e a fome e a quem muitas vezes acusei de inépcia e contra quem vociferei indignado pelo tempo de espera, pelo fino mal tirado, por tudo mais um par de botas que agora, numa reviravolta à campeão me cai em cima como um castigo dos deuses, que devem estar loucos, só pode, para me atazanarem assim. Foi uma semana de arromba e entre mortos e feridos penso que o balanço é positivo, prometendo mais e melhor para o futuro que espero breve. A tod@s @s que com paciência e coragem nos deram o prazer da comparência e o apoio tanto nas críticas como nos elogios - sabem tão bem quando os sentimos sinceros (pois é!!!) e tantas vezes nos esquecemos de os fazer - agradeço de coração, este coração meio chanfrado por paixões e razões que se renovam, neste permanente viver a sonhar acordado.
Decididamente, abrir latas é saudavelmente tramado. 
Entretanto, alheio a tudo isto, o povo Tuga urra de alegria a cada pontapé certeiro que, lá mais para leste, os rapazes da Selecção vão dando. Magro consolo para quem se vê cada vez mais triturado pela voragem dos "come tudo", este de se lhes equiparar ou até, quiçá, superiorizar na futebolada, mas mesmo assim, fraquito, é consolo. Já não atino é com os palermas que saem de casa e andam pelas ruas a apitar que nem doidos, como se fosse assim, alguma vez, forma de se festejar o que quer que seja, quanto mais uma vitória num jogo de futebol. São os chamados cérebros de apito, ou mais eruditamente, Buzinatus Cabeçudus que proliferam como cogumelos nestas alturas de festarola de contornos nacionalista-popular. Como a gasolina está barata, andam às voltas por tudo quanto é rua ou ruela, riem contentes como se fossem muito felizes e depois desaparecem para os poisos obscuros de onde bem podiam não ter saído. Como de costume, o Governo agradece, pois por uns tempos pode "trabalhar" à vontade, que está tudo anestesiado.
Estou como hei-de ir, por isso me despeço e desejo a todas e a todos que no verdadeiro campeonato, o da vida, não deixemos ganhar sempre os donos da bola, que é como quem diz....



domingo, junho 10, 2012

É preciso ter lata!!









 Meus amigos:
A vida tem destas coisas. Um dia, sem saber como alguém vê a sua vida dar uma grande volta (mais de 360º como diria o grande João Pinto), o que na enciclopédia do disparate não é melhor nem pior do que o que outras sumidades vão debitando, e além do mais enquadra-se como uma luva no que me sucedeu.
Depois de amigavelmente e por mútuo acordo eu ter sido obrigado a abandonar a empresa onde durante quase 25 anos me habituei à cómoda vida de empregado por contra de outrem, eis que esta me dá uma excelente oportunidade de vida. Aos 54 anos, 2 filhas ainda casadoiras e que contrariamente às princesas dos contos de fadas (embora sejam mais lindas as minhas princesas) comem e bebem como qualquer mortal. Pois bem, tendo esta excelente oportunidade de vida – UAUUU, que bom, estou sem emprego e ninguém me quer por causa da minha idade, bué de fixe – resolvi dar razão ao troglodita que como 1º ministro do coiso nos enfastia com tiradas muito menos engraçadas que as do João Pinto, mas igualmente calinas e empreendedorizei-me (eh,eh,eh!)
Assim, nova corrida, a mesma viagem, mais uma história, e nasce o ABRELATAS, espaço que espero ver crescer com calma e bom ar, que espero partilhar convosco. Abriu ontem, dia 9 de Junho, e como dizia Warezoog, filósofo que eu não conheço mas que se embebedava comigo e com o meu padrinho Paulo Archer, “nós só sabemos o que valemos quando alguém nos compra”. Oxalá gostem da ideia. Cá estarei à vossa espera.
Um abraço
Zé Peixoto


 Numa justa homenagem àqueles que com a sua labuta fazem chegar aos portugueses o peixinho que eles comem e que enche a grande maioria das conservas que vendemos ( no ABRELATAS só vendemos produto nacional) os trabalhadores desta novel empresa adoptaram como hino esta lindíssima canção do GAC. Todos os dias encerraremos a nossa labuta com o som do Ir e Vir. Viva a justa luta dos pescadores da sardinha. Um abraço sincero ao meu grande amigo Piló!

segunda-feira, abril 30, 2012

Até sempre, Miguel

Sabemos que a vida é assim. Ou pensamos saber. Mas quando levamos a cacetada é como se nada soubéssemos. A verdade é que nunca estamos preparados. Ainda bem. Com o coração não se brinca.
Depois fazemos as contas, mais a frio. Tem que ser. Por muito que nos doa a vida não pára, esta corrente
que nos empurra para o amanhã não quer saber para nada dos que ficam para trás. Porra de madrasta, esta vida que tão desleixada com os seus parece ser (nesta parte imagino o Corto Maltese cortando a palma da mão para aumentar a linha da vida).
 Mas o caminho já não é o mesmo. Ontem com os olhos marejados de lágrimas fitei incrédulo a realidade da tua partida, nos rostos dos amigos a mesma dor, o porquê, a revolta, no fim a impotência. Hoje, a recapitulação, o recordar do bom que foi tu teres vivido, mesmo que cruelmente interrompido tão perene o teu viver, como o facto de teres existido pôde ser tão bom para tantos, quantos nem podemos imaginar. Saberemos a falta que nos fazes, saberemos a cada dia que passe a dimensão dessa ausência. Podemos afirmar com segurança que ficamos todos muito mais pobres. Todos nós, portugueses, conhecendo-te ou não, adversários ou amigos, todos perdemos. Nós, os que te conhecemos, que tivemos esse privilégio, teremos sempre a ajudar-nos o teu exemplo, a dignidade da tua luta, a tua entrega.
É verdade que nada disso és tu. Mas também sabemos que nada honrará mais a tua memória do que continuar  o teu (nosso) combate, esse sonho por um mundo mais justo e fraterno para todos.
Hoje foi a tua homenagem. De todo o mundo vieram lindas mensagens cheias de gratidão e tristeza pela tua partida. O orgulho que elas me provocaram. Orgulho pelo Homem que tu foste, orgulho por ser teu camarada.
Foi bonito de se ver, pá.

terça-feira, abril 24, 2012

Miguel Portas faleceu

Miguel Portas faleceu     

       Nesta hora em que as palavras não chegam, apenas quero dizer: Miguel, que orgulho eu tenho por te ter conhecido, que orgulho enorme em ser teu camarada. Até sempre.

 

domingo, abril 01, 2012

Com a verdade me enganas ou já não tens dentes para mentir?

Percorremos caminhos cheios de escolhos. caminhos que vamos ajudando a fazer com a nossa apatia, o nosso silêncio, a nossa triste resignação, ela própria filha do nosso triste fado.
Fazemos ouvidos moucos ao futuro e qualquer treta impingida em horário nobre é uma verdade absoluta que não carece de demonstração.
O fim do mundo começa na Grécia, como nos querem fazer crer, mas de lá, um 1º ministro maltrapilho - como nos querem fazer crer - ainda tem tempo de mandar recados ao nosso bem amado - como nos querem fazer crer - Passos Coelho. Diz o pobretanas que ao extinguir o Ministério da Cultura o nosso governo deu uma péssima imagem do nosso país, coisa que eles mesmo vendo-se gregos para satisfazerem a voracidade dos da Troika nunca fariam. Esbanjadores - vocifera o povo patarata e patrioticamente crente - que aprendeu que a Grécia é o lado negro de uma realidade que está tão longe daqui como Plutão, o tal planeta que afinal era como as promessas do Passos Coelho uma mentira, um planeta do 1º de Abril, mas que na realidade mora aqui mesmo, na cabeceira da cama que fizemos e onde agora ninguém se quer deitar, nos BPNs e nas auto estradas que serram a nossa paisagem em cortes sangrentos de euros e de vida.
Um país que não o é, piada de dia 1 de um Abril perpétuo que acreditámos que só tinha o dia 25, mas que a fada má e os seus fadilhões se encarregam de nos mostrar como entre a matança do porco e a festança há quem fique com o presunto todo e há quem roa os ossos...do ofício.
Em Leiria, não chove nem sai de cima. Esta seca que tem a única virtude de impedir que os do costume descarreguem as suas entranhas impunemente na ribeira que há muito não é de milagre nenhum mas dos Milagres se chama, paira sobre esta cidade que secou há muito as fontes donde jorravam as suas memórias. Perdidos numa ilusão de novidade que se desmente a si mesma, os leirienses estagnam e procuram em vão as moiras encantadas que lhe disseram crescerem como papoilas nos campos do Lis. Excepções: a excelente exposição da não menos excelente pintora leiriense Sílvia Patrício, que esteve patente até dia 31 no Banco de Portugal; a garra e permanente criatividade de alguns quantos agentes culturais que apesar do desinvestimento do governo/autarquia/vereador na promoção e apoio à Cultura na região, no teatro na música, na dança, na fotografia e na pintura, têm sido justamente elogiados pela sua entrega e qualidade dos seus trabalhos.
Entre o princípio e o agora destas linhas começou a chover. Ou muito me engano ou esta noite vai haver merda na ribeira. Oxalá me engane. Esta chuva faz muita falta, não precisa de efeitos colaterais. Muito menos deste género e que se repetem há tantos anos. Tantos que até pensamos que é mentira.

Redfish

O grande José Afonso

quarta-feira, março 21, 2012

segunda-feira, março 05, 2012

Sem....




Sem querer saber de nada. sem querer saber de porra nenhuma. tirando uma ou outra situação pontual, porra nenhuma. vive e deixa viver,é o lema. nada de confusões. o absurdo desta guerra toda é tão grande que tirou qualquer veleidade ou fantasia de revolta ou de indignação. assiste-se à agonia de um povo enquanto comunhão de identidade, unidade cultural, ou qualquer sentimento comum de orgulho e independência nacional. quem tenta resistir, denunciar é louco, lunático, utópico, ou piegas, na ironia papalva de um cangalheiro sem moral, nem resquícios de vergonha. comem, porém, ajoelhados perante a vontade dos poderosos senhores do mundo. um povo sem alma nem auto estima só pode parir abortos sem coração nem razão que lhes assista. o ridículo de maldizer quem se entroniza: é a triste realidade: em trinta anos pelo menos 80% dos votos expressos em eleições em Portugal foram sempre, sempre nos mesmos tipos que são imediatamente alvo da indignação, do insulto e da chacota por parte daqueles que os lá meteram e que o voltam a fazer em nova oportunidade criando um círculo vicioso de autoflagelação difícil de entender a não ser que partamos do princípio que está tudo errado e a terra é quadrada e o sol é que gira em volta dela, fomos todos enganados desde o princípio, qual povo de navegadores qual carapuça, nunca saímos da banheira, o pacóvio de Santa Comba presente em todas as homilias, virgens santas ou nem tanto cantando hemorragias menstruais impondo o criacionismo por montes e vales, cidades e vilas, Darwin enforcado nos fios com que nos atam ao destino, porca miséria, porca de Murça, eu sei lá, nada disto faz sentido.
Nos Ferraris da inveja que os conduz à subserviência estampam-se todos os dias milhares de pobres de espírito. O medo faz o resto. Dos heróis e heroínas de carne e osso não se faz eco. Caso típico: um punhado de operárias luta uma luta desigual contra um patrão que é um escroque, uma justiça que não funciona, um país que as ignora, senão que as hostiliza. Mas são tão poucas diz alguém, onde estão os outros? No quentinho, amigo, que se a luta vencer eles também ganham, se não der em nada pelo menos não se chatearam, nem fizeram figuras ridículas afrontando o que já sabiam que nunca conseguirão vencer, é mais que sabido, assim talvez ainda lhes calhe qualquer coisinha, uns restos, uns ossinhos...os poltrões, cambada de poltrões que não vale nada mas que se arrogam a tanto.

Presto aqui a minha homenagem solidária usando o exemplo das operárias da fábrica de porcelanas Bonvida a todas e todos que lutam com dignidade e coragem na defesa dos seus direitos.

Redfish







quinta-feira, fevereiro 23, 2012

terça-feira, janeiro 24, 2012

Petição Pedido de Demissão do Presidente da República

Petição Pedido de Demissão do Presidente da República


Eu já assinei. Porque mesmo assim já é tarde. Porque nunca devia ter sido eleito. Porque não deveria ter podido candidatar-se. Porque o povo português merece mais respeito, este humilde peixinho vermelho incluído!

Redfish

segunda-feira, janeiro 23, 2012

JOSÉ LUÍS ALVES PEREIRA

Gostava muito de Brel e de pintura. Nunca mais poderei ir a uma exposição que não me lembre dele. O Zé ajudou a pintar de cores mais bonitas o quadro que é a minha vida, com a sua amizade, o seu carinho. Partiu inesperadamente, levando com ele o seu sorriso fraterno, a sua solidariedade permanente, a sua integridade de homem livre e vertical. Deixa uma imensa saudade e uma rede infinita de amizades e partilhas. Como canta o seu grande amigo Manuel Freire, "se ao morrer um coração, morresse a luz que lhe é querida, sem razão seria a vida, sem razão". Eu sei que assim é. Pela minha parte, nunca o esquecerei.


segunda-feira, janeiro 16, 2012

O lixo do Lixo -

Sabemo-nos todos gente sem paranóias de maior quando nos pensamos perante dificuldades com que nunca nos deparámos. Somos extraordinários e eficazes nesta demonstração teórica de que com o mal dos outros podemos todos muito bem. Melhor ainda é o nosso sentido crítico e o pronto sentido de justiça com que brindamos o parceiro do lado quando o vemos a afundar-se seja em que maré for. Há sempre uma justificação nada científica e muito preconceituosa apropriada a cada caso e omissa em relação ao material comparativo que somos nós, os próprios, colocados alternadamente e sem critério na posição de juízes ou como estabelecedor de paralelismos mas no grau comparativo de superioridade. O pobre é-o porque não quer trabalhar, o doente é-o porque fuma muito e não tem cuidado nenhum com a saúde, o que faz greve é porque não gosta de trabalhar, se não gosta de futebol é maricas, se é homossexual é maricas e é doente, se bate na mulher é porque é corno, ou noutra versão ainda mais abrangente, porque ela é uma vaca e mais não digo pois o meu tempo e a sua paciência são limitados, tantos seriam os exemplos.
Lado a lado, nos transportes públicos, nos cafés, nas repartições, cinemas, lares, onde quer que seja, pessoas de todas as raças, sexos e géneros partilham informação que interiorizam e analisam de forma diferente segundo os seus parâmetros de avaliação, que variam com a experiência, cultura e sensibilidade que cada uma transporta como bagagem pessoal. Por isso o mesmo fenómeno terá explicações diferentes e motivará reacções também diversas. Mas há uma mediana nesse tipo de reacções que é como um comportamento "mainstream" , que é assente em bases medíocres ( tanto a nível cultural, como académico e até humano), que leva à rejeição do que é novo, à desconfiança, ao desprezo e até ao ataque, por vezes físico e violento contra o que não se compreende. Contudo, muita desta arrogância parte não da valorização do "eu", mas antes pelo contrário da constatação das próprias limitações e do medo do enfrentar de desafios. Por isso a lambebotice, por isso a aceitação da escravidão, por isso o perpétuo manter de velhos dogmas, por isso a fossilização desta pseudo-elite medíocre e corrupta nos diversos poderes, que vive não das suas capacidades, mas do aproveitar das nossas fraquezas. As minorias, os que pensam diferente, são olhados como fenómenos anormais e etiquetados entre o ridículo ou a ameaça. Tudo o resto é espectáculo, nesta sociedade onde se valoriza mais o ter do que o ser, onde o sucesso é a meta, e está à venda em qualquer quiosque nas revistas de sociedade, ou nas casas sem segredos de qualquer programa reles de televisão.
O Paraíso, afinal, já não mora aqui