quinta-feira, agosto 08, 2013

O Polvo unido jamais será comido!



    De alma e coração aberto vos escrevo depois deste tempo de pousio. Não nasceram malmequeres no teclado  nem o mundo parou por causa disso. Acontece que estou pelos cabelos - que entretanto cresceram e bem - com isto tudo e com mais coisas ainda, pelo que as urtigas ainda são um local agradável comparado com o sítio para onde mandei isto e tudo o resto. Isto foi e foi bom ter ido o resto não para mal de todos os pecados ( nossos e de todo o mundo) cometidos e por cometer.
    Não sou peixe para qualquer mar, é bem verdade, assim como não gosto de ser comida de tubarão nem isca para pesca grossa. Esta caldeirada também não é do meu agrado e embora esteja mais p'ró lado do peixe miúdo,  não sou nem tenho ar de faneca e não me revejo nos carapaus de corrida que abundam na nossa praça. Há muita gente que eu gostava de mandar para a raia que as parta e uns moluscos que sobrevivem à custa de não terem espinha que os comprometa que gostava de ver exportados para um país bem longe da vista e do coração.
   Estamos fritos - berra aquela que antes de o ser já o era, com ou sem rabo na boca mas já com as escamas empenhadas aos bancos de areia que o rei Neptuno administra nos intervalos das orgias com as belas sereias cansadas de engatar marinheiros afogados em vinho e saudades dos lares que já tiveram e que perderam fruto da contingência e da iníqua lei das rendas tão do agrado das piranhas e cobras d'água e mais alguns batráquios que se juntam à peixarada nas lagoas de águas paradas. Com tudo isto quem se prejudica é o mexilhão, muito por culpa própria, fechado na sua casca a rogar pragas e com medo da mudança da maré.
    O mar avança e o mundo recua. Nada resta das caravelas nem de quem nelas partiu. O mar dos poetas secou, hoje é fiel depositário do rescaldo de Fukushima, o degelo ameaça os turistas americanos ávidos de tsunamis de emoção nas praias inóspitas de Armação de Pêra, Allgarve forever, diz quem sabe e entre pedras e cavacos se edificou uma nação de bacalhaus secos e peixes aranha, muito gabada nos circuitos de ajuda mútua que financiam a campanha presidencial do sr. Obama, esperança frustrada de milhões de apostadores do euromilhões e de centenas de virgens frequentadoras do Facebook.
    Entretanto, há eleições. Locais, para não irmos muito longe. Cada um no seu aquário. Como de costume os cardumes agitam-se. As taínhas aperaltam-se, os tubarões do costume preparam-se para o assalto. Nada que incomode o rei Neptuno, nem as sereias, ou os três estarolas, que de escafandro e óculos de sol visitam de tempos a tempos este buraco entre as dunas para nos dar alento em troca de sal.