sexta-feira, novembro 18, 2011

Como obter dos outros aquilo que não quer: pequena história de pequenos homens.

Há muito que me arrasto pelo desejo de vir aqui debitar as minhas mágoas sem forças depois para carregar no teclado,
o que me faz ficar absorto, quieto, a pensar sei lá em quê,
no Mar Morto ou no preço do café
todo torto, e dormente dum pé
A teoria, todavia, contraria
a explicação que obterão na ocasião
pois varia, quem diria, com a alegria
que há ou não, no coração, deste escrivão

Posto isto e mais o que se amanhar
não resisto a extirpar
o bem visto e exemplar
quisto com pernas que nos está a governar

Quisto ou tumor
aborto ou carraça
petisco ou estupor
nado-torto ou apenas chalaça

Chalaça de mau gosto
cachaça com fogo posto
trapaça com mosto
arruaça em Agosto

Tudo o que já leu
tudo o que não viu
sortudo camafeu
faz tudo que o pariu

Vida de artista
servida à equilibrista
pedida por quem resista
querida masoquista

O mito está enfermo
o pito do estafermo
o fito do governo
caralhito eterno

Nada disto resulta do controle emocional do pensamento corrente, nem da balburdia dos sentimentos em revolta. Apenas da confusão de quem à deriva, vê um país à bolina, com o norte desnorteado de culpa, marinheiros sonolentos em viagem para os exílios, alcoólico fervor da mortandade leviana e cristã. Nada disto faz sentido fora do sentido em que catastroficamente nos movemos e definimos como único. Nenhuma coerência nos pode ser exigida pois a diarreia também flui como um rio sem controlo e ninguém a tenta agarrar. Sejamos então justos:

Como podem criticar o que aqui é dito? Não percebem? Que importa? Aceitem-no com a mesma complacência que tem sustentado a política deste governo que ninguém percebe, a não ser que se aceite o assassínio como uma das belas artes e o suicídio como um sucedâneo um pouco menos refinado, apenas, mas também bastante sedutor e equilibrado na resolução de problemas. A não ser que nos tenhamos tornado naquela espécie de vermes que se entretém calmamente a ser devorada por todas as bestas que habitam as florestas mais recônditas dos nossos inconfessáveis desejos. A não ser que tenhamos desistido de todo de ser.

Eu que hoje sou apenas mais um peixinho que ruma sem cardume neste mar de lágrimas, rogo- vos que não se abstenham por mais violentamente que seja. Pacificamente, actuem, lutem.

Vosso, Redfish