Paro a olhar o tempo que passa veloz e vejo-me ainda o jovem que fui e teimo em ainda ser contigo nos braços, um monte de pele e ossos com uma cabecita num lado e 2 pés no outro, e eu embasbacado sentindo todo o peso do mundo nos teus 3 quilitos. Nem eu sabia no que nos tinha metido a mim e a ti, sem sequer te ter consultado. A minha querida cúmplice dormia placidamente(?) com uma pedrada anestésica pós cesariana e eu era o mais feliz e apalermado papá de Caldas da Rainha.
25 anos se passaram entretanto, e o monte de ossos é hoje uma linda mulherzinha que ajuda a embelezar os dias das nossas vidas. Muita coisa se passou desde então. Não estou nada orgulhoso deste país que te ofereci para viver, deste mundo louco em que te lancei. É o reverso de uma medalha com uma cara linda e uma coroa perversa. A esperança que se deposita na juventude é só balela quando de todas as formas se lhe barram os caminhos. Nós, que sonhámos um mundo melhor, sofremos ainda mais pela nossa gritante incapacidade de o construir, divididos por querelas e egoísmos fúteis, herança de outras guerras com as quais parece nada termos aprendido.
No meio disto tudo, tu e a tua irmã são dois diamantes que guardo cioso no meu coração. Gostava de vos ver sempre pequeninas e esconder-vos de todos o perigos. É possível ser-se mais egoísta que isto? Não sei. Sei que não é por mal. Somos assim, nem quando gostamos muito o sabemos fazer bem feito.
Nada é, contudo e ao contrário do que sempre nos querem fazer crer, irreversível. O tempo, talvez. Por isso, há que o viver com gosto e prazer. Fá-lo. Sê feliz.
Um beijo.
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