quinta-feira, dezembro 27, 2012

O cavalo de Boris Vian


   Olá.
   Deixem-me limpar o pó que se acumulou por aqui desde a última vez que aqui vim com alguma disposição de debitar o que na minha alma se vai tornando pesado. É curioso, não sei se é comum a outros, o que acontece comigo neste particular da escrevinhação. É que os motivos que muitas vezes me levam a escrever  são os mesmos que me fazem repudiar tal ideia. Isso acontece, aconteceu e acontecerá certamente de novo. A realidade ultrapassa frequentemente em violência, non-sense e cretinice as mais imaginativas das ficções e enredos. Quando tudo se processa num clima de apatia e conformismo de uma sociedade de cadáveres ambulantes - Walking Deads? isso é banal, os nossos mortos vivos são muito mais aterradores - vergados ao peso das suas necessidades e do medo de ser impedidos de as satisfazer, multidões de  novo escravos assumem as culpas dos seus algozes na vã tentativa de não os desagradar, numa lógica de sobrevivência canibalesca em que o próximo deixa de ser um amigo para se tornar uma ameaça, tenho tanto nojo do que nos tornámos que paro, pois tudo o que poderia produzir nada mais seria do que... seria apenas um vómito.
  É lógico que eu não escrevi porque não me apeteceu, mas a tentativa de explicação acima elaborada tem o seu valor, porque, na verdade, apanhei um valente ressaca virtual e só de olhar o PC me agoniava.
  Este cansaço, fastio melhor dizendo, é muito bem explicado num dos mais maravilhosos livros que li, "A espuma dos dias", de Boris Vian. O título, muito poético, não faz justiça ao francês original, em que a espuma a que se referia era a que se forma na boca dos cavalos, quando muito cansados. Daí a razão do meu título. Manias.
  Foi uma boa quarentena.
  Voltei, em derrapagem conflituante com a prossecução dos meus interesses e os do colectivo, sem querer saber que o Ano Novo que é mais velho que eu sei lá, vem com a sua carga de miséria e injustiça sob o fogo de artifício do costume, nas festas onde os palermas habituais, carregados de vinho e outras drogas legais, se enganam reciprocamente com votos de prosperidade e alegremente engalanam o cadafalso onde porão os pescocinhos com gardénias e bandeiras coloridas made in China. Enjoy Porra Cola, man, enjoy e não penses muito, Porra Cola é que é uma porra do caraças, é a porra dos campeões que patrocina  toda a merda que aqui se vai fazendo mais a que aí vem, porra para isto. Fim do Ano, depois dum fim do mundo que foi uma treta, já nem nos Maias se pode ter confiança, já o Eça o sabia e disse, o que ele não podia saber era da Porra Cola, a rainha de todas e de porra nenhuma,  da porra da dignidade, que se foi, da porra da decência, que se vendeu, da porra da solidariedade que se escondeu, da porra da vergonha que não se sabe onde está, da porra da liberdade que se matou.
  E olhamos os rostos que se perfilam em discursos teletravestidos de oficialidade dúbia e autenticidade obscura, para sabermos que tanta legitimidade tem o impostor disfarçado de poste avançado da ONU para países de imbecis, como estes governantes da porra que alicerçam a incoerência das suas atoardas em mentiras que só não os metem nas mais sórdidas cadeias porque quem está por trás destes trastes é a Porra Cola, a poderosa e omnipresente Porra Cola camuflada em sombras, buracos, disfarces, formas e feitios diversos, exércitos da salvação, igrejas, casas de putas, navios cisterna e outras porras que eu sei lá, tudo serve os seus intentos, tudo serve para que tudo isto se mantenha.
  2013? Eh,eh,eh,eh!! Grande porra!

1 comentário:

Anónimo disse...

porque não trabalhas ainda mais para que esta pourra o não seja?
redqualquercoisa