terça-feira, abril 11, 2006

Numa altura em que tanto se falou de paridade, e igualdade de oportunidades entre sexos, faz decerto algum sentido que se discuta muito seriamente o assunto, muito para mais num país onde para a mesma função há remunerações diferentes em claro desfavorecimento das mulheres, mesmo que se lhes reconheça as mesmas ou até maiores capacidades ou quando se vê que quando aumenta o desemprego, são elas as mais atingidas.
Desemprego, uma realidade para milhares de portuguesas e portugueses, que aliada ao baixo índice cultural e baixo nivel de formação profissional se traduz em miséria, que só pode ser combatida com políticas de solidariedade e de investimento na cultura e na formação.
Por isso quero aqui lembrar os 10 anos da criação do Rendimento Mínimo Garantido, como 1 das melhores leis do ponto de vista social, promolgadas depois do 25 de Abril. Recordar é lembrar que toda a direita se atirou a esta lei pois "poderiam haver abusos". Claro que sim, e claro que os houve. Mas eu, injustiça por injustiça, prefiro correr o risco entre aqueles que auferem rendimentos mínimos, do que pactuar com a hipocrisia daqueles que são coniventes com os que têm rendimentos máximos, e impunemente fogem a impostos, acumulam pensões e esbanjam fortunas.
Por isto, 2 poemas do catalão Miquel Marti I Pol

A ELIONOR

A Elionor tinha
14 anos e 3 horas
quando começou a trabalhar.
Estas coisas ficam
registadas para sempre no sangue.
Ainda usava tranças
e dizia: «sim senhor» e «boas tardes».
As pessoas gostavam dela,
da Elionor, tão meiga,
e ela cantava enquanto fazia correr a vassoura.
Os anos,porém, dentro da fábrica,
diluem-se no opaco griséu das janelas,
e ao fim de pouco a Elionor não teria
sabido dizer donde lhe vinha
a vontade de chorar,
nem aquele irreprimível
aperto de solidão.
As mulheres diziam que aquilo
era porque estava a crescer e que aqueles males
se curavam com marido e filhos.
A Elionor, de acordo com a mui sábia predição das mulheres,
cresceu, casou-se e teve filhos.
O mais velho, que era uma rapariga,
só havia três horas fizera os 14 anos
quando começou a trabalhar.
Ainda usava tranças
e dizia: «sim, senhor» e «boas tardes».

DE SEMÂNTICA

Recentemente
na fábrica
melhoraram muito
as relações humanas.
Agora, por exemplo,
ao tirar-se o prémio semanal
a uma operária,
por uma mistura de fios,
por exemplo,
ou por qualquer acto de indisciplina,
já não se diz impôr um castigo;
diz-se:
estimular o sentido
da responsabilidade.

REDFISH

1 comentário:

Anónimo disse...

A ELIONOR PELA VERDURA


Vai formosa e não segura...
O problema é que o handicap maior não é tanto o sexo em si mas a maternidade, por ironia do destino calhou a nós mulheres carregarmos a prol na barriga e depois cá fora....a gravidez implica direitos que os patrões nos dias que correm não estão para conceder...afinal há por aí muito homem desempregado..os caso de homens que aproveitam o período pós parto para ficarem eles a tomar conta dos filhos enquanto elas vão trabalhar contam-se pelos dedos..