Sabemos que a vida é assim. Ou pensamos saber. Mas quando levamos a cacetada é como se nada soubéssemos. A verdade é que nunca estamos preparados. Ainda bem. Com o coração não se brinca.
Depois fazemos as contas, mais a frio. Tem que ser. Por muito que nos doa a vida não pára, esta corrente
que nos empurra para o amanhã não quer saber para nada dos que ficam para trás. Porra de madrasta, esta vida que tão desleixada com os seus parece ser (nesta parte imagino o Corto Maltese cortando a palma da mão para aumentar a linha da vida).
Mas o caminho já não é o mesmo. Ontem com os olhos marejados de lágrimas fitei incrédulo a realidade da tua partida, nos rostos dos amigos a mesma dor, o porquê, a revolta, no fim a impotência. Hoje, a recapitulação, o recordar do bom que foi tu teres vivido, mesmo que cruelmente interrompido tão perene o teu viver, como o facto de teres existido pôde ser tão bom para tantos, quantos nem podemos imaginar. Saberemos a falta que nos fazes, saberemos a cada dia que passe a dimensão dessa ausência. Podemos afirmar com segurança que ficamos todos muito mais pobres. Todos nós, portugueses, conhecendo-te ou não, adversários ou amigos, todos perdemos. Nós, os que te conhecemos, que tivemos esse privilégio, teremos sempre a ajudar-nos o teu exemplo, a dignidade da tua luta, a tua entrega.
É verdade que nada disso és tu. Mas também sabemos que nada honrará mais a tua memória do que continuar o teu (nosso) combate, esse sonho por um mundo mais justo e fraterno para todos.
Hoje foi a tua homenagem. De todo o mundo vieram lindas mensagens cheias de gratidão e tristeza pela tua partida. O orgulho que elas me provocaram. Orgulho pelo Homem que tu foste, orgulho por ser teu camarada.
Foi bonito de se ver, pá.
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