terça-feira, fevereiro 21, 2006

Ele há é moinhos a mais!!




Este é um berdadeiro exemplo de que não há direita nem esquerda..... são dois exemplos típicos de rapaziada democrática.


Embora certos Cavaleiros ditos Andantes o queiram negar, a realidade vem provando o contrário: a direita e a esquerda, quer na sua formulação teórica, quer na sua vertente prática, quotidianamente exprimidas em modos de sentir e actuar na sociedade, existem e não é sensato nem honesto tentar camuflar a sua existência por detrás de retóricas e teorias por muito elaboradas que sejam.
Negar é uma atitude cobarde, de quem teme ser conotado e que prefere a ambiguidade, a falta de compromisso, mas que ao fazê-lo assume aos meus olhos a afirmação daquilo que nega. É uma atitude de direita. É o que tão bem soube fazer Cavaco Silva, nestas eleições.
É o que têm feito os Partidos Socialistas (quase na generalidade) dos Estados desta Europa quando estão no poder. É o que faz o Presidente da Câmara das Caldas da Rainha ao considerrar ( é propositado o erro...está com pinta!!!) que os meninos nazis são uns democratas de 1ª ordem, e que uma democracia que se preze deve aceitá-los e às suas manifestações racistas, homófobas, à sua violência estúpida, e melhor forma de o demonstrar é ceder-lhes instalações do Estado, convidá-los para actuar numa festa do município, mesmo que o estúpido nome da sua execrável banda seja "Ódio", e a festa seja destinada a jovens. Desde que se portem bem temos que os aceitar, desde que nesse dia se limitem a uivar "morte aos pretos e aos maricas", ou "morte aos comunas" (ei, esta até que não é má de todo!!!) e não batam em ninguém são uns gajos porreiros, bons cidadãos. O Adolfo deve ter sido um bom rapazito também, até começar as suas actividades lúdicas e ser responsável por mais de 100 milhões de mortos. Mas terá sido ele só? Os que teimosamente se negaram a ver que por detrás do jovem anticomunista alemão de farda preta e braço estendido estava um assassino potencial e demente, são gente da mesma estirpe de quem apoiou Bin Laden para combater os comunas no Afeganistão. Só por curiosidade, sabiam que foi Hugo Boss que criou as fardas das SS ? Por ser democrata, claro!
Vão dizer que a direita e esquerda não existe aos milhões de prisioneiros em condições miseráveis nas prisões políticas de todo o mundo!! ou Guantanamo é um local de Democracia turística para jovens muçulmanos em gozo de férias? Ou já existe esquerda quando os desgraçados são os presos de Cuba? Mas só para dizer mal, claro! É engraçado que a direita se mande ao ar porque o Fidel e os seus amigos tenham práticas iguais às deles. Deve ser por isso que acham que não há esquerda nem direita!!
Digam a todos que são impedidos de exercer os seus direitos de cidadania, de ter um trabalho, aos que são perseguidos, torturados, desde a China à Somália, às Mães da Praça de Maio, na Argentina, ou aos familiares de todos os desaparecidos chilenos às mãos do criminoso ( mas democrata, claro!!) Pinochet, digam lá a essa gente toda que Esquerda e Direita não existem!
De vez em quando seria bom que os Cavaleiros Andantes descessem das suas cavalgaduras abaixo, que por muito Rouxinóis que se chamem para pedestal são pouca coisa, e escutassem o que diz o Sancho Pança, cheio de sensatez.
Isso sim, é de esquerda!

Redfish

1 comentário:

Anónimo disse...

Dama Pé de Cabra
Para mostrar que somos tolerantes com quem tem opinião diversa da nossa, e a minha opinião não é tão diversa assim, aqui vai um texto de Miguel Sousa Tavares que vem mais do que a propósito:

O CERCO

JÁ FALTOU mais para que um dia destes tenha de passar à
clandestinidade ou, no mínimo, tenha de me enfiar em casa a viver os
meus vícios secretos. Tenho um catálogo deles e todos me parecem
ameaçados: sou heterossexual «full time»; fumo, incluindo charutos;
bebo; como coisas como pezinhos de coentrada, joaquinzinhos fritos e
tordos em vinha d'alhos; vibro com o futebol; jogo cartas, quando
arranjo três parceiros para o «bridge» ou quando, de dois em dois
anos, passo à porta de um casino e me apetece jogar «black-jack»; não
troco por quase nada uma caçada às perdizes entre amigos; acho a
tourada um espectáculo deslumbrante, embora não perceba nada do
assunto; gosto de ir à pesca «ao corrido» e daquela luta de morte com
o peixe, em que ele não quer vir para bordo e eu não quero que ele se
solte do anzol; acredito que as pessoas valem pelo seu mérito próprio
e que quem tem valor acaba fatalmente por se impor, e por isso sou
contra as quotas; deixei de acreditar que o Estado deva gastar os
recursos dos contribuintes a tentar «reintegrar» as «minorias»
instaladas na assistência pública, como os ciganos, os drogados, os
artistas de várias especialidades ou os desempregados profissionais;
sou agnóstico (ou ateu, conforme preferirem) e cada vez mais
militantemente, à medida que vou constatando a actualidade crescente
da velha sentença de Marx de que «a religião é o ópio dos povos»,
licenciado em direito ,tornei-me descrente da lei e da justiça, das
suas minudências e espertezas e da sua falta de objectividade social,
e hoje acredito apenas em três fontes legítimas de lei: a natureza, a
liberdade e o bom senso.

Trogloditas como eu vivem cada vez mais a coberto da sua trincheira,
numa batalha de retaguarda contra um exército heterogéneo de
moralistas diversos: os profetas do politicamente correcto, os
fanáticos religiosos de todos os credos e confissões, os fascistas da
saúde, os vigilantes dos bons costumes ou os arautos das ditaduras
«alternativas» ou «fracturantes». Se eu digo que nada tenho contra os
casamentos homossexuais, mas que, quanto à adopção, sou contra porque
ninguém tem o direito de presumir a vontade «alternativa» de uma
criança, chamam-me homofóbico (e o Parlamento Europeu acaba de votar
uma resolução contra esse flagelo, que, como está à vista, varre a
Europa inteira); se a uma senhora que anteontem se indignava no
«Público» porque detectou um sorriso condescendente do dr. Souto Moura
perante a intervenção de uma deputada, na inquirição sobre escutas na
Assembleia da República, eu disser que também escutei a intervenção da
deputada com um sorriso condescendente, não por ela ser mulher mas por
ser notoriamente incompetente para a função, ela responder-me-ia de
certeza que eu sou «machista» e jamais aceitaria que lhe invertesse a
tese: que o problema não é aquela deputada ser mulher, o problema é
aquela mulher ser deputada; se eu tentar explicar por que razão a caça
civilizada é um acto natural, chamam-me assassino dos pobres
animaizinhos, sem sequer quererem perceber que os animaizinhos só
existem porque há quem os crie, quem os cace e quem os coma; se eu
chego a Lisboa, como me aconteceu há dias, e, a vinte quilómetros de
distância num céu límpido, vejo uma impressionante nuvem de poluição
sobre a cidade, vão-me dizer que o que incomoda verdadeiramente é o
fumo do meu cigarro, e até já em Espanha e Itália, os meus países mais
queridos, tenho de fumar envergonhadamente à porta dos bares e
restaurantes, como um cão tinhoso; enfim, se eu escrever velho em vez
de «idoso», drogado em vez de «tóxicodependente», cego em vez de
«invisual», preso em vez de «recluso» ou impotente em vez de «portador
de disfunção eréctil», vou ser adoptado nas escolas do país como
exemplo do vocabulário que não se deve usar. Vou confessar tudo, vou
abrir o peito às balas: estou a ficar farto desta gente, deste cerco
de vigilantes da opinião e da moral, deste exército de eunucos
intelectuais.

Agora vêm-nos com esta história dos «cartoons» sobre Maomé saídos num
« jornal dinamarquês. Ao princípio a coisa não teve qualquer
« importância: um «fait-divers» na vida da liberdade de imprensa num
«país democrático. Mas assim que o incidente foi crescendo e que os
« grandes exportadores de petróleo, com a Arábia Saudita à cabeça,
começaram a exigir desculpas de Estado e a ameaçar com represálias ao
comércio e às relações económicas e diplomáticas, as opiniões públicas
assustaram-se, os governantes europeus meteram a viola da liberdade de
imprensa ao saco e a srª comissária europeia para os Direitos Humanos
(!) anunciou um inquérito para apurar eventuais sintomas de «racismo»
ou de «intolerância religiosa» nos «cartoons» profanos. Eis aonde se
chega na estrada do politicamente correcto: a intolerância religiosa
não é de quem quer proibir os «cartoons», mas de quem os publica!

A Dinamarca não tem petróleo, mas é um dos países mais civilizados do
mundo: tem um verdadeiro Estado Social, uma sociedade aberta que
pratica a igualdade de direitos a todos os níveis, respeita todas as
crenças, protege todas as minorias, defende o cidadão contra os abusos
do Estado e a liberdade contra os poderosos, socorre os doentes e os
velhos, ajuda os desfavorecidos, acolhe os exilados, repudia as
mordomias do poder, cobra impostos a todos os ricos, sem excepção, e
distribui pelos pobres. A Arábia Saudita tem petróleo e pouco mais: é
um país onde as mulheres estão excluídas dos direitos, onde a lei e o
Estado se confundem com a religião, onde uma oligarquia corrupta e
ostentatória divide entre si o grosso das receitas do petróleo, onde
uma polícia de costumes varre as ruas em busca de sinais de
«imoralidade» privada, onde os condenados são enforcados em praça
pública, os ladrões decepados e as «adúlteras» apedrejadas em nome de
um código moral escrito há quase seiscentos anos. E a Dinamarca tem de
pedir desculpas à Arábia Saudita por ser como é e por acreditar nos
>>
Eu não teria escrito nem publicado «cartoons» a troçar com Maomé ou
com a Nossa Senhora de Fátima. Porque respeito as crenças e a
sensibilidade religiosa dos outros, por mais absurdas que elas me
possam parecer. Mas no meu código de valores - que é o da liberdade -
não proíbo que outros o façam, porque a falta de gosto ou de
sensibilidade também têm a liberdade de existir. E depois as pessoas
escolhem o que adoptar. É essa a grande diferença: seguramente que vai
haver quem pegue neste meu texto e o deite ao lixo, indignado. É o seu
direito. Mas censurá-lo previamente, como alguns seguramente
gostariam, isso não.

É por isso que eu, que todavia sou um apaixonado pelo mundo árabe e
islâmico, quanto toca ao essencial, sou europeu - graças a Deus. Pelo
menos, enquanto nos deixarem ser e tivermos orgulho e vontade em
continuar a ser a sociedade da liberdade e da tolerância

por Miguel Sousa Tavares