sábado, março 25, 2006

Homenagem a Vinicius


Operário em construção

Era ele que erguia casasOnde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas Ele subia com as asasQue lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia De sua grande missão:
Não sabia por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
De fato como podia
Um operário em construção
Compreender porque um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse eventualmente
Um operário em construção
mas o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma subita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa- Garrafa, prato, facão
Era ele quem fazia
Ele, um humilde operário
Um operário em construção.
Olhou em torno: a gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.
Ah, homens de pensamento
Nao sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua propria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.Foi dentro dessa compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele nao cresceu em vão
Pois além do que sabia
- Excercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.
E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edificio em construção
Que sempre dizia "sim"
Começou a dizer "não"
E aprendeu a notar coisas
A que nao dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uisque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução
Como era de se esperar
As bocas da delação
Comecaram a dizer coisasAos ouvidos do patrão
Mas o patrão não queriaNenhuma preocupação
.- "Convençam-no" do contrário
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isto sorria.
Dia seguinte o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu por destinado
Sua primeira agressão
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntadoO operário disse: Não!
Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras seguiram
Muitas outras seguirão
Porém, por imprescindível
Ao edificio em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.
Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo contrário
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher
Portanto, tudo o que ver
Será teu se me adorares
mas o que via o operário
O patrão nunca veria
O operário via casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!
- Loucura! - gritou o patrão
Nao vês o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.
E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martirios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construido
O operário em construção

Dama Pé de Cabra

13 comentários:

Anónimo disse...

Memória.
Que delicia reler isto..assim vale a pena visitar esta coisa ! Obrigada,dama pé de cabra !

Anónimo disse...

Ao ler este Poema, penso no tempo em que tinha esperança, esperança na mudança, esperança num amanhã melhor, num nascer ou renascer diferente. Hoje vejo que pouco mudou, que é preciso "avisar a malta" que novas ideias são necessárias. O Mundo mudou as pessoas também, onde já vão as revoluções industriais as lutas do trabalhadores por menos uma hora de jorna. Hoje na empresa onde trabalho luta-se pelo cooperativismo das profissões, (a minha é melhor que a tua) e os sindicatos alinham, para conseguirem mais um sócio. Como o tempo muda e faz mudar.

Um cão como todos os cães

Anónimo disse...

DÁ- ME UM IDEAL SOCIAL.....

Caríssimo cdot,

Infelizmente é uma realidade...há muita gente que perdeu a força e a genica de "socializar por aí" e olha quem o dizia....o filho do Valentim Loureiro (bate na madeira)
O pessoal da nossa geração na sua maioria acomodou-se, botou barriga, e preferiu juntar-se à carneirada....bem sei que não passas de um cão e afinal de um cão como os outros...mas podes ser o cão que faz a diferença...e se muitos cães como tu se juntarem pelo teu ideal...terá valido a pena...nada de pessimismos...afinal o que te animava nos teus tempos de juventude que foste perdendo com os anos? procura dentro de ti...a resposta está aí algures...o mundo mudou? ok....mas há quem persista no seus ideiais...quem queira acabar com a apatia generalizada da nossa geração e pela total incompreensão e desinteresse dos jovens pela política....porque todo o mundo é composto de mudança

Anónimo disse...

Smldm

È dificil dar-te uma ideia social neste momento, talvez porque a minha ideia de uma sociedade livre justa igual e fraterna, cada vez está mais longe. Já viste onde param os grandes "pensadores" do meu tempo, aqueles que incendiavam plateias e manipulavam as massas, manipulavam sim, porque ao ver hoje o destino desses papagaios de poleiro, sinto que fui muitas vezes manipulado. Todos como nós que temos remado contra a maré, não podemos de não nos sentir cansados, a direita trabalhou no silêncio, uniu-se, estendeu os tentaculos até ao centro e centro esquerda, e aí está o resultado. E nós, gladiamos-nos em discussões estéreis, e a maior parte das vezes servimos de escadote para intenções inconfessaveis.
Não deixei crescer a barriga, mas sinto-me pessimista, muito pessimista quanto ao futuro.
Hoje em França está em curso uma greve geral ou quase, á volta de Paris existem filas de 300 e tal KMS, as rádios publicas aderiram e só passam música clássica, tudo isto em apoio á luta dos estudantes e jovens á procura do 1º emprego, e nós vamos vendo o circo das nulidades, vamo-nos embebedando com os futebóis e com as 333,3333 medidas do "nosso" primeiro.

Um cão como todos os cães

Anónimo disse...

ISTO AGORA SÓ ÍA LÁ COM UMA REVOLUÇÃO


O desinteresse pela política, o individualismo crescente e, por outro lado, a diminuição das clivagens sociais e políticas são boas explicações para a nossa apatia.
Um bom começo seria pensar a relação que mantemos com os nossos políticos. Ao acreditarmos que eles estão lá (na distante e abstracta sede do poder) e que fazem o que bem entendem, independente de nossos interesses, é um sinal de abandono do jogo político, antes mesmo que ele comece. E aqui não é defendida a ideia de que devemos acompanhar a vida pública dos nossos políticos, algo inviável num quotidiano cada vez mais corrido.

O repensar da relação político-cidadão é muito mais básico do que isso e não deve ser confundido com a relação candidato-eleitor, que é passageira. O desinteresse pela política é resultado da nossa distância mantida em relação a ela, do nosso desconhecimento em relação ao que se faz na tomada de decisões política, no próprio jogo político.

Impossível comparar o português com o francês infelizmente, os franceses são muito mais interventivos e contestatários e vão à luta sempre que é preciso, lembra-te da revolução francesa, eles foram os pioneiros da liberté, égalité, fraternité, numa altura em que essas eram questões que ainda estavam muito longe de amadurecer ...isto agora só ía lá com uma revolução....

Anónimo disse...

A COMUNICAÇÃO SOCIAL QUE TEMOS

Vai ter lugar no nucleo de Leiria do Bloco de Esquerda, com a presença do
representante da LUSA,hoje pelas 21,15 uma sessão sobre informação, na
sequencia das conferencias temáticas que o bloco realiza todos os meses.

Só uma chamada de atenção para louvar o facto e para lembrar que ao contrário dos outros partidos que só trabalham para as campanhas eletorais, o Bloco continua vivo e bem vivo....aparece, independentemente da tua cor política, é importante haver opiniões divergentes, e depois quem come as criancinhas ao pequeno alomoço são os comunistas, não somos nós!

Anónimo disse...

Dama pé de cabra,tenho acompanhado as tuas entradas e subscrevo muitas delas e, até tenho de certa forma ficado bem impressionado com algumas análises tuas.Agora este apelo à participação das pessoas com o remate de que "até nem somos nós que comemos criancinhas ao pequeno almoço mas sim o PC", francamente.....desejo que tenha sido sómente uma brincadeira,mas para isso gostaria de ver isso muito bem exclarecido.

Anónimo disse...

Caro Iras-cível,

obviamente que não penso que os PC são antropógfagos...o que eu queria dizer é que as pessoas escusam de ter receio de aparecer (referia-me ao debate sobre a comunicação social) porque nós não fazemos mal...quem tem fama de comer crianças ao pequeno almoço são os PC com os quais nós somos muito amíude confundidos...estás esclarecidinho??

Também agora é tarde demais...o debate foi ontem....e foi bastante interessante...mais uma vez, talvez por esse vago receio, só lá estava gente do Bloco mesmo!

Anónimo disse...

ASCENSÃO E QUEDA

Pois é,há tempos alguém aqui disse que por aqui só existiriam "lagartos".Puro engano.Na altura não me quiz pronunciar,até porque sou muito introvertido nessas coisas de futebois,mas, chegou a altura de dar a cara até porque entendo que é nestas situações que deveremos,todos os vermelhuscos,como alguém "indocumentado" nos apelidou de nos assumirmos...
Perdemos.É verdade! mas.... perdemos com uma verdadeira nação.A Catalunha!perdemos porque, se:não nos tem sido sonegado um penalty na catedral,teriamos ganho.SE:o árbitro não tivesse critérios duvidosos no jogo de ontem,não teríamos perdido.SE: o Simão não tivesse todo burrado com medo e tivesse alguma classe. SE: em vêz de um Holandês, o nosso treinador fosse o Luis Filipe Vieira...ele sempre afirmou que seriamos campeõs europeus.Pra acabar espero que na próxima segunda-feira,os lagartos também apresemtem as suas razões de serem verdadeiros desportistas.Até lá...deus queira que empatem.

Anónimo disse...

SPOOOOOOOOOOORTING

O Sporting começou a ganhar no Estádio da Luz à 19ª jornada e não mais parou. Soma 10 triunfos consecutivos e, neste período, sofreu apenas 2 golos. Mantém o melhor ataque da prova (46 golos) e alcançou o estatuto da segunda melhor defesa(22) – mercê do tento sofrido pelo Benfica no Estádio do Restelo. Neste particular, só o FC Porto se superioriza ao conjunto comandado por Paulo Bento (Record)

Anónimo disse...

afinal parece que desapareceram os indocumentados...depois desse blá blá leonino,uma pergunta ; afinal com esse curriculun todo que apresentam o que é que já ganharam? eh eh eh.

Anónimo disse...

SER OU NÃO SER

Perdemos ! desta tribuna não apresentaremos "ses" justificativos para o negativo resultado.O FCP,foi melhor onde o deveria demostrar.No relvado...Também eu aqui e agora mostro a diferença entre nós e os lampiões..perdemos mas SÓ NÓS SABEMOS PORQUE NÃO FICAMOS EM CASA.. SPOOOOOOOOOORTIG,SPOOOOOOOORTING

Anónimo disse...

Homenagem a Mário Viegas

HOMEM,ABRE OS OLHOS E VERÁS.

Homem,
abre os olhos e verás
em cada outro homem um irmão.

Homem,
as paixões que te consomem
não são boas nem más.
São a tua condição.

A paz,
porém, só a terás
quando o pão que os outros comem,
homem,
for igual ao teu pão.

Armindo Rodrigues