Pois é , há farturas mas cada vez há menos fartura. Leiria desdobra-se em festas. As da cidade, e as da Academia, sendo que estas à falta de tradição, importam as de outras mais antigas, sem critério, sem inovação, sem alma própria. Estas festas académicas de Leiria são um aborto, que todos os anos se repete, onde o mau gosto se cruza com a pirozeira e destronam qualquer tentativa de enquadramento estético mais compatível com o estatuto que os futuros "doutores" irão exigir da sociedade: resumindo, serão doutores, mas culturalmente néscios. Todas as generalizações pecam por excesso, que me desculpem todos aqueles que não se revêm na pobreza destes festejos, que neste fim de semana culminam com a benção das pastas. Amén!
A cidade festeja-se com mais tradição, mas com a mesma falta de gosto. Há a feira, com os inevitáveis carróceis de música estridente, cada vez mais velozes e de mais duvidoso gosto.
As farturas, o algodão doce, as tendas com bugigangas, cada vez menos tradicionais e mais made in china, sinal dos tempos e do apimbalhamento da nossa sociedade. O que era popular, patusco, ingénuo, mas genuíno, desapareceu para dar lugar ao patético exemplar do mau gosto globalizado. Já não há pachorra.
Este Maio pródigo em chuva, 40 anos após o Maio de 68, traz-nos outras barreiras que temos que derrubar. Senão, serão os nossos sonhos que irão por água abaixo. Mesmo pagando nós o que
não devemos pagar. Ou talvez por isso, por já não nos indignarmos com estes abusos.
Redfish
6 comentários:
Maldito povo, que não partilha dos gostos 'cultos' de red's e afins!...
Já o Salazar também pensava que o povo devia ser analfabeto para ser dócil. Porque será que a cultura continua a meter medo a tanta gente? Porque será que têm tanto receio de um povo mais culto?
O povo por ser inculto, não é maldito. Malditos são os que se aproveitam disso e o oprimem.
E tanto ressentimento, sr. anónimo, cheira a dor de cotovelo.
redfish
Partilho da opinião do Red a propósito da Feira. Com o particular incómodo para mim de ter de levar com ela, sem querer, todo o santo dia...é que a voz estridente do pessoal dos carroceis e carrinhos de choque me entra pela casa dentro todos os dias sem pedirem licença....não se compreende que a feira esteja mesmo dentro da cidade...o razoável seria ser no terreno normalmente ocupado pelos festejos académicos porque aí incomodoria muito menos pela escassez de casas à volta....a respeito da própria feira pouco posso dizer...apesar de morar a 5 minutos a pé nunca me senti tentada a entrar naquele antro de mau gosto a julgar pelo que se vê do lado de fora....
Dos festejos académicos em Leiria não reza a história...o traje académico em tempos idos era uma forma de uniformizar os estudantes paara que nãos e sentisse tanto as discrepâncias entre ricos e pobres...hoje um traje académico é caríssimo e sem sentido.....o fato de Leiria é outro monumento ao mau gosto....os chapelinhos das meninas estão a pedir poucas e as meias opacas no Verão parecem mais de uma viuvinhas presas à tradição do que de pessoas que estão na flor da vida com tudo por descobrir....na idade da irreverên cia em que julgamos que tudo é possível...e a benção das pastas para quê? sabemos que a maior parte dels vem engrossar as listas de desempregados por esse país fora...nã há mesmo santinho que lhes valha!!!
Mas qual ressentimento? Só se for o vosso, grandes educadores, que querem ver tudo pelos vossos próprios olhos!
E não! Não li Salazer nem tenho nada a ver com ele! Vocês é que lêem pela mesma 'cartilha'... a dos iluminados que sabem o que é bom para os outros e gostavam de proibir tudo o que se desvie da vossa norma. Que é, evidentemente, outra forma de opressão. Deixem o povo (e a feira) em paz e, em lugar de dizerem mal, levantem-se do sofá e promovam iniciativas alternativas mais, digamos, culturais. Pode ser que o povo vos siga...
Caro sr. anónimo: Não me confunda! Eu porque não gosto não proibiria nunca, é mais ao jeito não gosto não como. Quanto ao resto, tem sido feito muita coisa em Leiria, e muito boa, devo dizer, do ponto de vista cultural. Por acaso, a algumas terei estado ligado, menos do que queria, confesso, mas tenho visto gente a mexer-se, com qualidade, remando contra a maré, quase sem apoios, sem publicidade, apenas por carolice. Se era ao BE que se referia e não a mim em particular, aí a resposta terá de ser outra. O
BE é um partido político, não uma produtora de eventos. Claro que tem uma política cultural que foi sufragada e não mereceu o apoio da população de Leiria, azar o nosso.
Não me retira nada disso o direito à minha opinião crítica, mesmo que choque com a normalidade boçalizante que impera no nosso país.
Redfish
No final da semana passada, os jornais relataram mais uma história chocante: uma rapariga foi violada na Queima das Fitas, em Braga.
Uma violação é uma violação. Mas nós temos outras coisas a dizer também.
Segue em baixo o Comunicado de imprensa do M.A.T.A.
Mais um caso de violência onde o palco é a "tradicional" Queimas das Fitas
Uma aluna de primeiro ano – dita "caloira" na hierarquia das "praxes" – da Universidade do Minho foi violada por um colega – "cardeal", na mesma hierarquia – durante a festa da "Queima das fitas".
É mais um caso de violência em contexto de "tradição académica". Não o sendo, as notícias não chamariam "caloira" à vítima e "cardeal" ao violador, nem procurariam comentários da direcção da Escola ou da associação académica. Não o sendo, a própria aluna não diria "nunca desconfiei dele até porque ele é cardeal do curso e tem por dever proteger os caloiros", nem diria que "ainda pensava que se tratava de mais uma praxe".
Este caso é diferente de outros do passado, porque a brutalidade de uma violação sexual choca e é condenável por qualquer pessoa, independentemente do contexto do acto. Também difere por não se ter sucedido em grupo: foi uma decisão individual do "cardeal" (e não das "comissões de praxes") e ocorreu fora do alcance das outras pessoas (e não em situação de "arrebanhamento" onde existem sempre pressões de grupo).
No entanto, tem semelhanças em vários pontos com outros casos tornados públicos, por exemplo, "Ana Santos, de Santarém", "Ana Sofia Damião, de Macedo de Cavaleiros" ou "Diogo Macedo, de Famalicão"; e é por isto que não se pode desligar da relação que tem com a "tradição académica":
- a confiança depositada num colega "superior" acaba por ser defraudada, deixando clara a arbitrariedade das hierarquias entre estudantes (absurdas e inventadas pela "tradição académica", mas supostamente "protectoras");
- a relutância em denunciar o sucedido (denúncia esta que, note-se, não foi feita em Braga) esconde o medo de voltar à escola onde o "cardeal" continuará a "proteger os seus caloiros", e esconde também o receio de dificilmente voltar a frequentar o curso e a escola, aos quais tem todo o direito;
- a reacção da direcção da Escola anuncia que "só abrirá um inquérito quando houver uma queixa formal da vítima", desresponsabilizando-se uma vez mais. Não porque tenha responsabilidade no sucedido, mas porque ao escolher o caminho da ignorância faz com que uma aluna deixe de ter condições de frequentar a instituição de ensino e possa perder, pelo menos, um ano da sua vida;
- os convívios escolhidos usam o álcool como argumento que justifica a violência (sendo que nenhum tipo de violência pode ser legitimada pelo abuso de álcool), quando, de facto, a origem dessa violência está no facto de esses convívios se basearem nas "tradicionais" hierarquias que conferem diferentes poderes às pessoas que assim "convivem".
- fica mais uma vez provado que na escola e nas suas "tradições", tal como na sociedade, as mulheres são encaradas como "o elo mais fraco", sendo por isso as principais vítimas das discriminações e abusos.
Recusamos o policiamento dos convívios entre estudantes como resposta. Pelo contrário, pensamos que a gravidade deste caso obriga a várias reflexões: por parte de quem acredita que a hierarquia é uma solução legítima para o convívio; por parte da direcção da Escola que tem a obrigação de garantir que esta aluna pode continuar a estudar; por parte da direcção da Escola, do Ministério do Ensino Superior e do Ministério Público, que têm a responsabilidade de não deixar este caso cair no esquecimento.
Não se pode admitir que uma pessoa tenha medo de denunciar uma agressão, nem tão pouco que essa denúncia traga ainda mais obstáculos à sua vida. Este medo e estes obstáculos são transversais a todos os casos conhecidos (e desconhecidos) e terão que acabar um dia.
E esse dia deve ser hoje.
Este texto é um comunicado do MATA ( movimento anti tradição académica).
Só é aqui posto como adenda à discussão sobre cultura versus imbecilidade.
Redfish
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