quinta-feira, março 13, 2008

A Arte de Não Saber



"Nada como o tempo atrás do contratempo
para o meu coração
e não adianta ficar, esperando, resmungando
até quando, até quando, não, não....."
Jorge Maravilha
canta Chico Buarque


Quando durante dois dias, o tema central dos telejornais de todos os canais não codificados, foi a despedida de Camacho e o jogo Getafe/ Benfica, no que respeita à qualidade informativa que é vendida aos portugueses, estamos perfeitamente falados.
Podem vir os senhores da SEDES, como se fossem puras virgenzinhas impolutas, dissertar sobre os problemas gravíssimos que o país atravessa, sobre as causas que identificaram que estarão na origem desses problemas, esquecendo-se de mencionar, que entre eles estão pessoas que já tiveram responsabilidade directa na condução dos destinos deste país, ( como gestores de empresas públicas pagos a peso de ouro, como secretários de Estado, como ministros, etc) que logo as televisões, obedientemente, lhes amplificam a goela e comentadores super especializados lhes vêm tecer louvores, elogiando-lhes a sagacidade da análise e ignorando as suas responsabilidades, nunca os questionando sobre a sua falta de capacidade nos cargos que ocuparam, ou sobre a pertinência e razoabilidade ( o porquê!!!) de opções que tomaram e que hoje sem o mínimo de vergonha, vêm a público criticar!
A imprensa regional, domesticada e bem comportada, serve os interesses dos caciques locais, que normalmente são donos de empresas, que são proprietárias dos poucos títulos com alguma expressão, mas onde cada vez se faz menos jornalismo e mais se faz notar a voz do dono, como critério principal de redacção.
O sensacionalismo triunfou sobre o critério, temos um jornalismo apático, conservador e, principalmente nos meios audiovisuais, de uma parcialidade que pouco difere do público para o privado, e que está ao nível do que acontece em muitos países, onde a liberdade de informação é uma luta que ainda não foi ganha.
A falta de exigência do possível público espectador/leitor ( muito menos) também é evidente e isso tem jogado a favor deste status que propicia e beneficia de um grande vazio cultural, que afecta uma massa cada vez maior de gente, e essa incultura é transversal a toda a sociedade, sendo de maior preocupação ao nível das pessoas com graus académicos superiores, mas com níveis de cultura geral muitíssimo baixos. Também nos extratos com maior rendimento económico o nível cultural tem descido, o que demonstra que não é só entre os mais desfavorecidos, com poucas hipóteses de adquirir outro tipo de informação senão a que é massificada, que a falta de cultura impera (basta reparar no bom gosto do nosso "comendador" Joe Berardo mais o seu lindo jardim no Bombarral). Esta nova ordem social é totalmente dominada por motivações egoístas de "sucesso" a qualquer preço, e "sucesso" é o que se pode medir em termos de popularidade, dinheiro e luxos. O resto, o que não dá "satus", não é valorizado, sendo que a excelência intelectual só tem mérito para meia dúzia de gente esquisita, que é vista quase como uma seita. É aliás muito comum a palavra "intelctual" ser usada quase como um insulto, ou pelo menos como uma coisa menor, em muitas entrevistas dadas pelas novas estrelas do nosso também recauchutado jet-set!
Com tudo isto, quem se admira que entre os nossos políticos, sejam os que mais aparentam ser, do que os que efectivamente são, a ascender aos cargos de poder? O que valorizam mais em Sócrates aqueles indefectíveis que, contra todas as evidências de falta de carácter, de capacidades de liderança, de desonestidade política, de arrogância autoritária, beijam o chão que ele pisa? A sua qualidade como 1º ministro, ou a imagem cuidadosamente fabricada político em falsete?
Para não falar de Luís Filipe Menezes, Santana Lopes ou da obscenidade política que é Paulo Portas!!
Esta é a sociedade do (mau) espectáculo e do facilitismo ostentatório. Um bom par de mamas e um belo tutú são quase garantia, se se tiver a ousadia de se bem servir deles, de se ter algum sucesso, se mais não puder ser, após uns esquemas teelvisivos manhosos, acabar casada com um futebolista, um craque, dos que diz bem do mister, fala dele próprio na 3ªpessoa e ganha balúrdios livres de impostos.
Habituados a nada questionar, a incompreensão contra aqueles que se questionam e reinvindicam melhores condições sociais, ou laborais, é um dos estigmas que acompanha essa nova espécie de analfabetos, que não abrangendo mais do que o que lhes põem à frente do nariz, se refugia na maledicência para ocultar as suas próprias deficiências. É neste mar de intolerância e ignorância que navegam e prosperam todos os oportunistas, desde o bandido comum, o proxeneta, o político corrupto...
E como já dizia Jorge Maravilha
prenhe de razão
mais vale uma filha na mão
do que dois pais sobrevoando!!
Você não gosta de mim
a sua filha gosta
Você não gosta de mim
a sua filha gosta!
Jorge Maravilha
canta Chico Buarque

4 comentários:

Anónimo disse...

Belo texto


sou
Atento

Anónimo disse...

A verdade é que a informação deixou de ser um quarto poder, um contra-poder, para se tornar um joguete do poder..

assim , não vamos lá


mordidelaroz

Anónimo disse...

O ilustre animador deste blog está zangado com tudo e todos. Acha que o mundo está às avessas por não agir como ele pensa. Tem o relógio parado no tempo antigo e, por via disso, só acerta duas vezes por dia na hora exacta. Não gosta deste povo, desta gente, deste país deste continente. Supomho que o ilustre animador deste blog se prepara para viajar, sem retorno, para um outro planeta distante, onde todos sejam á sua medida e dimensão: muuuuuuito inteligentes!

Leiria em Cuecas disse...

Grande Líseo, já estranhava a sua ausência. Eu estarei parado no tempo, você é uma flor sem tempo, e se aquilo que eu penso lhe serve de carapuça, sorte sua, que o leu e percebeu. Mas o que me admira é afinal, como podem todos os Líseos deste país, já que como diz não são tão totós como eu cho que são, continuarem a defender esta iniquidade toda! Ou serão coniventes com isto e o totó aqui sou eu?

Redfish