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quinta-feira, setembro 21, 2006
DESEMPREGO !!!
E AS INSOLVÊNCIAS CONTINUAM A PROGREDIR.....
AGORA, DEPOIS DA DAMASO, TEMOS MAIS A "SERPRINT LDA" (decalcomanias) e "PEDROSAS LDA". (uma das maiores fábricas de móveis do País.. chegou a ter mais de 300 trabalhadores...).
1 comentário:
Anónimo
disse...
A «nova direita» e a «falsa consciência» A imprensa constitui um palco onde, de certo modo, a sociedade se espelha, embora os reflexos que nos chegam sejam o produto do cruzamento conflitual de ideologias, valores e princípios, muitas vezes ocultos ou disfarçados e que, por isso, importa filtrar. Por isso, pode ser um «lugar de educação», se a sujeitarmos ao rigor da análise crítica que permita o questionamento das mensagens que veicula. A capacidade que os arautos da Nova Direita têm de utilizar a imprensa para, de um modo sistemático quanto insidioso, manipular e falsear a realidade, parece-nos um bom tópico analítico e, portanto, educativo. Como não conseguem justificar o colapso do liberalismo e o consequente incumprimento das suas promessas centenárias, frequentemente tropeçam nas palavras e engasgam-se com conceitos de que sempre desconfiaram, tais como: liberdade, justiça, direitos humanos e dignidade. E isto porque, ao contrário dos clássicos em que afirmam inspirar-se, cedo compreenderam que poderiam apresentá-los com bens disponíveis e prontos a ser utilizados, sabendo tratar-se, ao contrário, de bens raros e de difícil conquista e apropriação pelas massas(1). Neste contexto, até se podem dar à suprema hipocrisia de os impor ao mundo como bens públicos e universais. Como diria António Aleixo, até ao momento em que o “povo queira um mundo novo a sério”… Vem isto a propósito de um artigo de opinião de José Miguel Júdice no Público de 7 de Julho último e intitulado, sugestivamente, «Viva o Capitalismo!». Num período de dois meses, consegue passar de um estado depressivo para um estado de completa euforia (o que é típico de uma doença que dá pelo nome de esquizofrenia, quando medicamente assistida). E qual foi o medicamento que conduziu de um estado em que “Com mágoa e raiva” dizia que “deve ser muito difícil encontrar no mundo mais desenvolvido elites mais egoístas, com menos sentido social, mais desinteressadas com as dores dos que são trucidados pela roda da vida e com o sofrimento dos seus concidadãos do que as elites portuguesas”, para um outro que o leva a gritar vivas ao capitalismo e à sua real capacidade de produzir a modernização das sociedades, a justiça social, a promoção da igualdade de oportunidades e o desenvolvimento económico? Foi, tão só, o filantropismo (que enaltecemos e louvamos) de Bill Gates, de Warren Buffett (logo os dois homens mais ricos do mundo!), de Champalimaud e de uma dezena de empresários portugueses integrados no que designam por EIS (empresários pela integração social). Pelo meio, como convém, enaltece-se a capacidade dos nossos empresários (nomeadamente aqueles que, como João Rendeiro, se dedicam à gestão de fortunas) que, “se tiverem sucesso [note-se a antecedência do elogio], farão mais pela liberdade económica e pela sociedade liberal do que dezenas de políticos, centenas de manuais escolares, milhares de debates de ideias” e a ferroada de escorpião no Estado que, segundo o nosso autor, deve deixar de se preocupar com a protecção social, a saúde e a educação, tarefas que aqueles filantropos e o que designa por sociedade civil sabem desempenhar mais adequadamente se os libertarem de um contrato social ultrapassado e que toma como princípio estruturante que o capitalismo é um mal. Chegados aqui, convém recordar uma das passagens de Smith tornada mítica pelo liberalismo económico e consagrada como fundadora do capitalismo, mas que poucos leram e a maioria só fixou a expressão ‘mão invisível’: “Na realidade, ele [o indivíduo] não pretende, normalmente, promover o bem público, nem sabe até que ponto o está a fazer. Ao preferir apoiar a indústria interna em vez da externa, só está a pensar na sua própria segurança; e, ao dirigir essa indústria de modo que a sua produção adquira o máximo valor, só está a pensar no seu próprio ganho e, neste como em muitos outros casos, está a ser guiado por uma mão invisível a atingir um fim que não fazia parte das suas intenções. Ao tentar satisfazer o seu próprio interesse promove, frequentemente, de uma maneira mais eficaz, o interesse da sociedade, do que quando realmente o pretende fazer. Nunca vi nada de bom, feito por aqueles que se dedicaram ao comércio pelo bem público. Na verdade, não é um tipo de dedicação muito comum entre os mercadores, e não são necessárias muitas palavras para os dissuadir disso (2).” Este excerto, escrito por quem foi, coloca a nu a hipocrisia (e o cinismo) que constituem a matriz básica dos discursos da «nova direita». O texto esquizofrénico que serviu de mote a esta peça constitui uma prova da «falsa consciência» dos seus autores. A desconstrução desta poderosa e ‘insidiosa’ (como Bourdieu a qualificou) ideologia totalitária é, não só urgente como crucial, ainda que seja, apenas, para evitar a queda em novos tipos de barbarismo.
De Manuel António Ferreira da Silva da "Página da Educação"
1 comentário:
A «nova direita» e a «falsa consciência»
A imprensa constitui um palco onde, de certo modo, a sociedade se espelha, embora os reflexos que nos chegam sejam o produto do cruzamento conflitual de ideologias, valores e princípios, muitas vezes ocultos ou disfarçados e que, por isso, importa filtrar. Por isso, pode ser um «lugar de educação», se a sujeitarmos ao rigor da análise crítica que permita o questionamento das mensagens que veicula. A capacidade que os arautos da Nova Direita têm de utilizar a imprensa para, de um modo sistemático quanto insidioso, manipular e falsear a realidade, parece-nos um bom tópico analítico e, portanto, educativo. Como não conseguem justificar o colapso do liberalismo e o consequente incumprimento das suas promessas centenárias, frequentemente tropeçam nas palavras e engasgam-se com conceitos de que sempre desconfiaram, tais como: liberdade, justiça, direitos humanos e dignidade. E isto porque, ao contrário dos clássicos em que afirmam inspirar-se, cedo compreenderam que poderiam apresentá-los com bens disponíveis e prontos a ser utilizados, sabendo tratar-se, ao contrário, de bens raros e de difícil conquista e apropriação pelas massas(1). Neste contexto, até se podem dar à suprema hipocrisia de os impor ao mundo como bens públicos e universais. Como diria António Aleixo, até ao momento em que o “povo queira um mundo novo a sério”…
Vem isto a propósito de um artigo de opinião de José Miguel Júdice no Público de 7 de Julho último e intitulado, sugestivamente, «Viva o Capitalismo!». Num período de dois meses, consegue passar de um estado depressivo para um estado de completa euforia (o que é típico de uma doença que dá pelo nome de esquizofrenia, quando medicamente assistida). E qual foi o medicamento que conduziu de um estado em que “Com mágoa e raiva” dizia que “deve ser muito difícil encontrar no mundo mais desenvolvido elites mais egoístas, com menos sentido social, mais desinteressadas com as dores dos que são trucidados pela roda da vida e com o sofrimento dos seus concidadãos do que as elites portuguesas”, para um outro que o leva a gritar vivas ao capitalismo e à sua real capacidade de produzir a modernização das sociedades, a justiça social, a promoção da igualdade de oportunidades e o desenvolvimento económico? Foi, tão só, o filantropismo (que enaltecemos e louvamos) de Bill Gates, de Warren Buffett (logo os dois homens mais ricos do mundo!), de Champalimaud e de uma dezena de empresários portugueses integrados no que designam por EIS (empresários pela integração social).
Pelo meio, como convém, enaltece-se a capacidade dos nossos empresários (nomeadamente aqueles que, como João Rendeiro, se dedicam à gestão de fortunas) que, “se tiverem sucesso [note-se a antecedência do elogio], farão mais pela liberdade económica e pela sociedade liberal do que dezenas de políticos, centenas de manuais escolares, milhares de debates de ideias” e a ferroada de escorpião no Estado que, segundo o nosso autor, deve deixar de se preocupar com a protecção social, a saúde e a educação, tarefas que aqueles filantropos e o que designa por sociedade civil sabem desempenhar mais adequadamente se os libertarem de um contrato social ultrapassado e que toma como princípio estruturante que o capitalismo é um mal.
Chegados aqui, convém recordar uma das passagens de Smith tornada mítica pelo liberalismo económico e consagrada como fundadora do capitalismo, mas que poucos leram e a maioria só fixou a expressão ‘mão invisível’:
“Na realidade, ele [o indivíduo] não pretende, normalmente, promover o bem público, nem sabe até que ponto o está a fazer. Ao preferir apoiar a indústria interna em vez da externa, só está a pensar na sua própria segurança; e, ao dirigir essa indústria de modo que a sua produção adquira o máximo valor, só está a pensar no seu próprio ganho e, neste como em muitos outros casos, está a ser guiado por uma mão invisível a atingir um fim que não fazia parte das suas intenções. Ao tentar satisfazer o seu próprio interesse promove, frequentemente, de uma maneira mais eficaz, o interesse da sociedade, do que quando realmente o pretende fazer. Nunca vi nada de bom, feito por aqueles que se dedicaram ao comércio pelo bem público. Na verdade, não é um tipo de dedicação muito comum entre os mercadores, e não são necessárias muitas palavras para os dissuadir disso (2).”
Este excerto, escrito por quem foi, coloca a nu a hipocrisia (e o cinismo) que constituem a matriz básica dos discursos da «nova direita». O texto esquizofrénico que serviu de mote a esta peça constitui uma prova da «falsa consciência» dos seus autores. A desconstrução desta poderosa e ‘insidiosa’ (como Bourdieu a qualificou) ideologia totalitária é, não só urgente como crucial, ainda que seja, apenas, para evitar a queda em novos tipos de barbarismo.
De Manuel António Ferreira da Silva da "Página da Educação"
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