quinta-feira, setembro 04, 2008

SECLA: OS TREZE VENCERAM!

Aqui deixamos o discurso dos treze no Comicio do B.E., no passado dia 27 na Nazaré!:

A NOSSA LUTA

Pertencemos a um grupo de 13 trabalhadores da Secla, que fomos intitulados de “Os 13 Resistentes”, porque entre os 250 trabalhadores da Secla, fomos os únicos que não aceitamos ser empurrados para fora da empresa e espoliados dos nossos direitos.
Pertencendo nós aos sectores mais diversificados que existiam na empresa, e alguns mesmo sem se conhecerem, resolvemos individualmente lutar por um dos direitos mais elementares consagrados na nossa Constituição: DIREITO AO TRABALHO. Foi esta a causa que nos uniu e perseguiu ao longo do calvário de mês e meio que durou a nossa luta.
Quando muito se tem discutido em torno da Flexigurança e na dificuldade que as empresas têm actualmente de ajustarem a mão-de-obra às suas reais necessidades, eis que surge uma empresa inovadora, A Secla, que vem provar precisamente o contrário, vendo-se livre de cerca de 250 trabalhadores, sem sequer recorrer ao despedimento colectivo e aos seus pressupostos, e fá-lo da forma mais leviana que se possa imaginar
E nós que ficamos na empresa, por não aceitarmos desbaratar os poucos direitos que ainda temos, e que foram conquistados há muitos anos, por gente corajosa que pagou com a sua própria vida -nós os 13 resistentes -, fomos impedidos de entrar na empresa e retomarmos os nossos postos de trabalho, não nos garantiram o ordenado e também não nos despediram – situação inédita -, porque diziam não ter dinheiro para pagar as nossas indemnizações. Mas foi esta mesma empresa que arranjou dinheiro, para pagar as dívidas que tinha à Segurança Social, ao Fisco, e ao BCP. E tudo isto foi possível sem qualquer penalização para a empresa que além de ignorar completamente todos os procedimentos consagrados na lei, desrespeitou também a graduação creditória, colocando os trabalhadores num patamar de menoridade em relação aos outros credores da empresa, quando de acordo com a lei, os trabalhadores são credores privilegiados, mesmo em relação ao estado.
Como se tudo isto não fosse suficiente, – e não sendo nossa intenção pôr em causa a justiça no nosso pais - eis que surge um juiz, que confirma o encerramento total e definitivo da empresa, sem qualquer obrigatoriedade por parte desta, de ocupação efectiva dos 13 resistentes. E fá-lo baseado em fundamentos que em nossa opinião são pouco convincentes, ignorando inclusive o relatório da Inspecção Geral de Trabalho, que alertava para a conduta ilegal da empresa.
A partir de agora ficamos convictos que, do mesmo modo como se podem criar também com a mesma facilidade se podem fechar empresas na hora, sem quaisquer responsabilidades sociais e jurídicas, para quem o faz.
E tudo isto só é possível, porque os cerca de 250 trabalhadores também mal aconselhados pelo Sindicato dos Trabalhadores das Industrias de Cerâmica, Cimentos, Construção e Similares do Distrito de Leiria, facilmente abdicaram da luta pelo seu posto de trabalho e pelo garante do sustento das suas famílias em troca de esmolas.
Como não há “duas sem três”, eis que surge também o Exmo. Senhor Presidente da Câmara de Caldas da Rainha, com responsabilidades no município, e que deveria ser o primeiro defensor dos valores democráticos e o maior impulsionador na criação e manutenção de postos de trabalho no concelho a que preside, em prol do bem estar dos seus cidadãos e no entanto preferiu tomar partido e assumir o papel de porta voz da empresa, afirmando categoricamente que os trabalhadores não deveriam ter quaisquer direitos, demarcando-se do seu papel de autarca, dando desta forma uma prova inequívoca em como o poder económico determina e condiciona o poder político.
Os sindicatos por seu lado, que deveriam colocar-se ao lado dos trabalhadores na defesa dos seus direitos, também não ficaram muito bem na fotografia. Se um dos sindicatos – o Sindicado dos Trabalhadores das Indústrias de Cerâmica, Cimentos, Construção e Similares do Distrito de Leiria - acabou por ser responsabilizado pela forma como conduziu todo o processo e que culminou com a avalanche de trabalhadores que aceitaram prescindir dos poucos direitos que ainda tinham, o outro sindicato – o Sindicato das Indústrias de Cerâmica, Cimento e Vidro da Zona Centro - que inicialmente acompanhou os 13 resistentes, acabou também por desaparecer repentinamente de cena, sem qualquer justificação, deixando os 13 resistentes completamente isolados e por sua conta e risco.
E foi este o cenário que nós tivemos que enfrentar ao longo de mês e meio resistindo a todo o tipo de coação psicológica por parte da entidade patronal.
Valeu-nos o apoio de alguns ex-colegas que nos foram visitando. E foi com base nesse apoio e na forma como nos organizamos que conseguimos alcançar os nossos objectivos.
A base do nosso sucesso está relacionada com as seguintes palavras-chave:

- Focalização: clarificação de ideias e determinação de objectivos concretos tendo em conta a missão a que nos propusemos;
- Coesão: o elevado índice de identificação em relação ao grupo, o espírito de grupo e a confiança mútua foram determinantes para resistirmos às várias estratégias implementadas pela empresa com o intuito de “dividir para governar”.
- Organização: qualquer grupo bem organizado, suporta melhor as agressões exteriores e nós através de reuniões periódicas, em que traçávamos em conjunto a melhor estratégia a adoptar de acordo com os acontecimentos que se sucediam diariamente, conseguimos alcançar os nossos objectivos e resistir a todo o tipo de ameaças.
- Convicção – foi muito importante acreditarmos em nós próprios e termos todos a certeza, que iríamos alcançar os nossos objectivos.
- Determinação – foi importante mantermos um elevado grau de motivação, muita coragem e ousadia para tomarmos atitudes como aquela em que impedimos a saída de equipamento da empresa.

Com base em tudo o que já foi dito, concluímos que, quando os trabalhadores estão unidos, jamais serão vencidos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Saúdo estes trabalhadores, como exemplo de integridade e coragem, que devem fazer corar de vergonha muito sindicalista profissional encartado.
Vou ajudar a divulgar esta carta, pois servirá de encorajamento para muita gente que está a passar por situação semelhante.
Unidos venceremos!